Ex-presidente islamita egípcio é condenado à morte por tentar fugir da prisão
Cairo, 16 mai (EFE).- O ex-presidente islamita do Egito, Mohammed Mursi, foi condenado provisoriamente à morte neste sábado após ser considerado culpado de planejar sua fuga, junto com outros 105 islamitas, de uma prisão durante a revolução de 2011, que depôs o então líder Hosni Mubarak.
Como é necessário no Egito, o Tribunal Penal do Cairo enviou sua decisão ao grande mufti, Shauqi Alam, máxima autoridade religiosa islâmica do país, que emitirá uma opinião não vinculativa, mas que poderá influenciar na decisão final da corte, prevista para o próximo dia 2 de junho.
“Se o tribunal confirmar então sua decisão, apelaremos da sentença”, disse à Agência Efe um dos advogados de Mursi, Abdel Monain Abdel Maqsud, que se recusou a avaliar a decisão judicial.
O advogado acrescentou apenas que a defesa terá 60 dias para recorrer a partir de 2 de junho.
Nesse mesmo dia, a corte deverá pronunciar-se sobre outro caso no qual Mursi está acusado, relacionado com espionagem e colaboração com o movimento islamita palestino Hamas.
Por esse mesmo caso hoje foram condenados a morte vários dirigentes islamitas, entre eles o líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Badia, o “número dois” da organização, Jairat al Shater, e seu filho, assim como o membro de sua executiva, Mohammed Beltagui.
Também foram sentenciados à pena capital pelas mesmas acusações o presidente do braço político da Irmandade, Saad Katatni; seu vice-presidente, Esam al Arian, e o destacado pregador islamita Yousef al Qaraduai, que foi julgado à revelia.
Trata-se da segunda sentença contra o ex-mandatário egípcio, depois que foi condenado em abril a 20 anos de prisão pelo uso da violência durante distúrbios ocorridos nos arredores do Palácio Presidencial de Itihadiya em dezembro de 2012.
Na mesma sentença, Beltagui e Arian foram condenados também a duas décadas de prisão.
Por sua parte, Badia já tinha sido condenado anteriormente à pena de morte e à prisão perpétua por vários casos.
Junto ao líder da confraria, Shater também foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato de manifestantes durante distúrbios registrados em junho de 2013 no Cairo.
“É muito óbvio que a sentença é de tendência política, já que está documentado e comprovado que nem o presidente Mursi nem os dirigentes da Irmandade Muçulmana tinham escapado da prisão de Wadi Natrun”, declarou à Agência Efe pela internet o porta-voz da confraria, Mustafa al-Khatib.
O representante da confraria acrescentou que o ex-ministro de Interior, Mohammed Ibrahim, “negou que houvesse documentos que confirmavam a detenção de Mursi”, motivo pelo qual este “estava detido ilegalmente”.
“Além disso, há um vídeo do ex-chefe do Estado-Maior do exército Sami Anan no qual nega que integrantes do Hezbollah ou Hamas tivessem entrado no Egito durante a revolução”, acrescentou.
Por outro lado, o vice-presidente do Partido da Conferência, Hussein Abulata, disse à Efe que estas sentenças são “uma vitória do povo egípcio e uma vingança contra o grupo terrorista da Irmandade Muçulmana”.
O político previu que, em represália a estas sentenças, os membros da confraria “aumentarão os ataques terroristas contra membros da polícia e do exército, assim como contra as instituições e instalações do Estado”.
Pelo contrário, Khatib afirmou que a política atual da Irmandade “frente ao regime militar golpista” se baseia em ter “muita paciência e cansar as forças do golpe com inteligência e sem enfrentamentos diretos”.
Por sua vez, o porta-voz islamita instou os países europeus a “não apoiar o golpe de Estado nem em nível político nem econômico”.
Nesse sentido, Abulata destacou que a Irmandade Muçulmana vai continuar levando o caso às esferas internacionais “para conseguir a simpatia das comunidades estrangeiras e provocar ódio contra o Egito”.
Mursi foi condenado à morte, junto a outros 105 membros da Irmandade Muçulmana, por sua fuga da prisão de Wadi Natrun durante a revolução de 2011, graças à suposta ajuda de combatentes do Hamas e da organização libanesa xiita Hezbollah.
O ex-presidente tem pendentes outros casos abertos nos quais está acusado de insultar o Judiciário e entregar informação confidencial a países e organizações estrangeiras.
Após maciças manifestações para exigir sua saída, Mursi foi deposto no dia 3 de julho de 2013 pelo exército egípcio, liderado pelo então ministro da Defesa e atual presidente do país, Abdul Fatah al Sisi. EFE
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