Exército de policiais monta acampamento para conquistar Mossul de jihadistas

  • Por Agencia EFE
  • 09/11/2014 09h38

Yasser Yunis.

Mossul (Iraque), 9 nov (EFE).- A tomada pelo Estado Islâmico (EI) de Mossul, a segunda mais importante cidade do Iraque, obrigou milhares de policiais a fugirem para a vizinha região do Curdistão para evitar uma morte quase certa nas mãos dos jihadistas.

Agora, estes homens começam a se reorganizar para formar um exército com o objetivo de recuperar sua cidade perdida.

A cerca de 25 quilômetros ao norte de Mossul, em um acampamento recém erguido pelas autoridades iraquianas fora do alcance do EI, reuniu-se um grande número de oficiais e policiais foragidos dos extremistas.

O acampamento foi batizado de “Força de Libertação de Mossul”, segundo disse à Agência Efe o governador da província de Ninawa, Azil al Nuyaifi. O dirigente afirmou que o primeiro objetivo é recuperar a cidade, na qual vivem quase dois milhões de pessoas. Mossul foi ocupada pelo EI em 10 de junho.

O quartel foi inaugurado há menos de uma semana e já conta com cerca de mil policiais, entre eles altos oficiais. Yazidis, cristãos, curdos, turcomanos, shabaks e árabes iraquianos estão dispostos a unir suas forças para “recuperar a paz” na qual viviam em seu território antes dos jihadistas chegarem, garantiu Al Nuyaifi.

“É a mistura natural da província”, declarou o governador, assegurando que todos “combaterão lado a lado com seus irmãos” para acabar com o EI pois “sua inimizade compartilhada” ao grupo extremista “os unirá em uma luta comum”.

Muitos dos futuros combatentes conhecem de perto ao EI, pois caíram em mãos da milícia fundamentalista quando os jihadistas tomaram Mossul em meados de junho e foram obrigados a “se arrepender” perante o líder do grupo, o “califa” Abu Bakr al-Baghdadi.

Em troca, teoricamente, poderiam viver com suas famílias de acordo com a interpretação radical da lei islâmica que o EI estabeleceu nas zonas do Iraque e da Síria sob seu controle, mas muitos afirmam que na realidade isto não ocorreu.

Os extremistas localizaram dezenas de policiais, incluindo os “arrependidos”, para executá-los, denunciam os sobreviventes.

Desde a abertura do quartel, centenas de pessoas chegaram voluntariamente para contribuir para a libertação de Ninawa, a fértil província do norte do Iraque cuja capital é Mossul.

Ahmed Habash, de 32 anos, disse à Agência a Efe que os “criminosos” do Estado Islâmico perguntarem por ele em sua casa em Mossul, mas ele tinha conseguido fugir após deixar sua família em um lugar seguro.

“Aproveitei a noite para fugir a pé até chegar na província de Kirkuk, e depois cruzei para o Curdistão para me unir ao acampamento”, relatou.

Habash largou seu trabalho como policial há alguns anos após sofrer uma lesão em uma perna devido à explosão de uma bomba, mas agora decidiu se apresentar para recuperar Mossul.

“O EI destruiu nossa cidade, que tem um legado cultural e histórico importante, e matou e derramou o sangue de nossos filhos, por isso devemos expulsá-los para fora do último centímetro do país”, declarou.

O governador de Ninawa agradeceu “qualquer ajuda” destinada a libertar a província, “sem importar sua procedência”, seja dos “peshmergas” curdos ou de clãs tribais.

“Todos são forças iraquianas que Ninawa necessita nesta crise”, ressaltou, embora tenha alertado para a falta de apoio financeiro e de armamentos.

O Ministério do Interior iraquiano apoiará os policiais que se unam a esta força e pagará seus salários. Além disso, entregará o armamento necessário para enfrentar o EI, segundo Al Nuyaifi.

Espera-se que cerca de quatro mil membros das forças de segurança iraquianas da província de Ninawa se unam ao acampamento, informou o governo.

Esam Najib, de 38 anos, também sobreviveu a uma morte certa após ser detido em uma noite pelos jihadistas que invadiram sua casa em Mossul. “Foi um milagre. Consegui escapar ferido a bala, pois tinham disparado quando saí correndo”, contou.

Najib também tinha expressado seu arrependimento ao jihadistas, da mesma forma que Habash e dezenas de seus companheiros, mas diante do avanço dos extremistas decidiu fugir.

Agora este iraquiano diz estar preparado para morrer pela cidade onde nasceu. Najib prometeu que não irá desistir até libertar Mossul, “até que a paz seja possível, porque desde que os terroristas entraram se vive uma situação trágica”.

“A batalha vai ser difícil, mas os iraquianos têm experiência na guerra”, sentenciou Abdul Karim, um oficial aposentado de 52 anos disposto a voltar ao combate. EFE

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