Exército mexicano é alvo de dúvidas e críticas após novas mortes de civis

  • Por Agencia EFE
  • 21/07/2015 20h25

Cidade do México, 21 jul (EFE).- A morte no domingo de uma criança em um confuso tiroteio e os indícios de participação de militares no desaparecimento de sete pessoas neste mês puseram o exército do México na mira de protestos e provocaram uma pronta resposta das autoridades do país em defesa da instituição.

“É muito importante ter muito cuidado de não desqualificar por antecipado às Forças Armadas porque se não fosse pela presença e participação delas no país e em Michoacán, quem sabe como estaria a situação nesses lugares “, disse nesta terça-feira em entrevista para a emissora “Imagen Radio” o governador eleito do estado de Michoacán, Silvano Aureoles.

Aureoles fez essas declarações após a morte no último domingo de Heriberto Reyes, de apenas 12 anos, que foi atingido por um estilhaço de bala no povoado de Ixtapilla onde um grupo se manifestava contra a presença do exército mexicano e da polícia federal do país.

Tudo isso após a detenção, horas antes, no povoado de La Placita, do líder das milícias de autodefesa da região, o indígena Semeí Verdía.

“De início, vejo que o projétil não corresponde a um calibre das armas regulamentares do exército, mas é preciso esperar o fim das investigações”, considerou Aureoles.

O comandante da 12ª Região Militar e do Comando Especial de Segurança em Michoacán, Pedro Felipe Gurrola, garantiu ontem, por sua vez, que o exército e a polícia puderam constatar que havia “homens com armas de fogo” entre os participantes do protesto, no qual “colocaram mulheres e crianças à frente”.

Segundo Gurrola, os civis agrediram as forças de segurança com paus, pedras e gás lacrimogêneo e, depois que foram dispersados, se reagruparam “entre a vegetação rasteira” e, a partir daí, foi possível “ouvir detonações”.

Por causa deste incidente, cinco pessoas ficaram feridas, entre elas o menor que veio a morrer, acrescentou o militar.

Somente neste ponto – que os feridos se encontravam em um estabelecimento próximo – coincidem as versões das Forças Armadas e das testemunhas locais.

“Não são enfrentamentos, são disparos da polícia federal e do exército mexicano contra as pessoas, inclusive crianças”, disse hoje em entrevista para a “Radio Fórmula” o líder das milícias de autodefesa desta região, Germán “El Toro” Ramírez, que substituiu Verdía.

De acordo com seu relato, enquanto os pais se manifestavam, o restante das famílias se encontrava no estabelecimento citado nas versões das Forças Armadas e das testemunhas.

No entanto, segundo El Toro, quando as forças de segurança dispersaram os manifestantes com gás lacrimogênio, também atiraram contra os civis.

A este trágico incidente é preciso acrescentar a “provável participação” de militares no desaparecimento de sete pessoas no estado de Zacatecas, no centro-norte do país, no último dia 7, como reconheceu ontem a Secretaria de Defesa Nacional (Sedena) após encontrar “indícios” que mostram o envolvimento de seus efetivos no fato.

A instituição informou que vai colaborar com a procuradoria e buscará esclarecer os fatos. Além disso, reiterou que “de nenhuma maneira, vai tolerar atos contrários às leis” entre suas fileiras.

Segundo publicou no domingo a revista “Proceso”, na quinta-feira passada foram encontrados quatro corpos, em avançado estado de decomposição, com marcas de tiros nas nucas no interior de um imóvel em construção na comunidade de Tesorera, em Jerez (Zacatecas).

No sábado, a procuradora desse estado, Leticia Soto Acosta, informou que após uma inspeção foram identificados, de forma preliminar, quatro dos sete desaparecidos.

Nesse mesmo dia, foram descobertos outros três corpos, um deles de uma mulher, também com tiros nas nucas, explicou a “Proceso”, que não confirmou se os restos mortais correspondem aos outros desaparecidos.

Antes do anúncio do possível envolvimento do exército neste caso, o presidente do México, Enrique Peña Nieto, saiu na segunda-feira em defesa do exército, ao defini-lo como “o bastião e a força das instituições democráticas” por zelar pela segurança nacional.

No entanto, estes dois incidentes recentes se somam a fatos anteriores que causaram o desgaste da imagem pública dos militares.

Em uma operação realizada no município de Tlatlaya, no Estado do México, no centro do país, no dia 30 de junho de 2014, 22 supostos delinquentes morreram em um enfrentamento com o exército.

No entanto, de acordo com uma testemunha, um civil teria morrido no enfrentamento e os demais foram assassinados pelos militares após um interrogatório.

Combinado a isso, em maio, um enfrentamento terminou com a morte de 42 supostos membros de um cartel de drogas e um policial federal, e este número “desigual” despertou suspeitas na população.

Em resposta, o comissário da polícia federal, Enrique Galindo, afirmou “categoricamente” que “não houve uma única execução”. EFE

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