Exército turco e Estado Islâmico travam 1º confronto direto na fronteira
Istambul, 23 jul (EFE).- O exército turco e o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) tiveram seu primeiro enfrentamento direto nesta quinta-feira: um tiroteio de um lado a outro da fronteira entre Turquia e Síria que deixou pelo menos dois mortos, um de cada lado.
Há três dias um atentado suicida cometido por um suposto jihadista turco na cidade de Suruç, a 46 quilômetros da fronteira com a Síria, deixou 32 mortos, e no dia seguinte grupos da guerrilha curda reivindicaram o assassinato de dois policiais turcos e de um simpatizante do EI.
O combate começou por volta de 7h30 (de Brasília), quando uma caminhonete do EI passou perto de um posto fronteiriço militar turco na província de Kilis e metralhou os soldados de guarda, matando um e ferindo outros dois.
Os tanques estacionados no lugar responderam e mataram um militante do EI, além de destruir três veículos.
Pouco depois, o exército turco também bombardeou posições do Estado Islâmico perto da cidade síria de Azaz, e vários caças F-16 decolaram da base aérea de Diyarbakýr para patrulhar a região.
Apesar de a Turquia ter incluído há dois anos o EI na lista de organizações terroristas, não haviam sido registrados até agora enfrentamentos entre jihadistas e patrulhas turcas da fronteira.
Esta calma reforçava a sensação na esquerda turca e curda de que o governo turco via com bons olhos o domínio dos jihadistas no norte da Síria, e inclusive o alimentava para combater as aspirações curdas de estabelecer uma administração autônoma nesta faixa.
Vários políticos curdos do partido HDP reforçaram esta acusação nos últimos dias, atribuindo ao Executivo parte da responsabilidade pelo atentado de Suruç, aparentemente cometido por um jovem turco formado nas fileiras do EI na Síria.
Eles acusaram a polícia de não ter feito o suficiente para desmantelar as redes jihadistas, e lembraram que o autor do atentado contra o comício eleitoral do HDP, em 5 de junho, também era ligado ao EI e tinha sido interrogado pela polícia dias antes de cometer o crime.
No mesmo dia do massacre de Suruç, um tiroteio entre forças da ordem e membros do Partido de Trabalhadores de Curdistão (PKK) na província de Adiyaman deixou um policial morto, em um dos poucos incidentes com vítimas mortais desde que a guerrilha curda proclamou um cessar-fogo, há dois anos.
A tensão disparou ontem, quando um breve comunicado do centro de imprensa do PKK reivindicou a autoria do assassinato de dois policiais, executados enquanto dormiam em casa na cidade de Ceylanpinar, na fronteira com a Síria.
O anúncio justificou a ação argumentando que os agentes “colaboravam com o Estado Islâmico”, mas surpreendeu por não ser o modus operandi do PKK, e por as autoridades nem terem descartado se tratar de um crime comum.
Ontem a ala juvenil e urbana do PKK, conhecida pela sigla YDG-H, reivindicou o assassinato de um islamita em Istambul e prometeu executar mais membros da rede jihadista na Turquia, em “resposta” ao massacre de Suruç.
Ainda não se sabe quem matou ontem outro islamita em Adana, no sul do país, e quem deixou hoje outro gravemente ferido, nem quem está por trás do tiroteio que deixou um agente de trânsito morto e outro ferido em Diyarbakir, a “capital” das regiões curdas.
Mas esta série de assassinatos parece corresponder a um padrão de vingança pelas vítimas de Suruç, dirigido contra o que a esquerda curda percebe como uma amálgama entre o governo e os jihadistas.
Apesar das tentativas do co-presidente do HDP, Selahattin Demirtas, de acalmar a situação, afirmando que “sangue não se pode lavar com sangue”, o fim total do cessar-fogo e uma nova explosão de guerra entre o PKK e o exército parece se aproximar a passos largos.
Por isso causou certa surpresa o confronto de hoje entre militares e o EI, arqui-inimigo da guerrilha curda. EFE
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