Exposição conta I Guerra Mundial através de histórias e lembranças cotidianas

  • Por Agencia EFE
  • 10/06/2014 10h21

Antonio Sánchez Solís.

Viena, 10 jun (EFE).- Como a guerra muda uma sociedade? Como crianças, mulheres, soldados, a economia e a escola se adaptam no dia a dia? Histórias cotidianas por trás da história da I Guerra Mundial estão reunidas em uma exposição na Áustria.

Responder essas perguntas e se aproximar da historia dentro da história do conflito é o argumento da mostra, que sob o título de “Gloria & Tristeza – Viver com a Grande Guerra”, ficará no Palácio de Schallaburg, a cerca de 100 quilômetros de Viena, até 9 de novembro.

“Queremos mostrar como as pessoas viviam e como elas viveram a guerra. E, o mais importante, que existe guerra com a sociedade”, explicou à Agência Efe o historiador Peter Fritz, uns dos responsáveis pela exposição.

A mostra começa apresentando 15 pessoas que viveram a guerra e como o conflito as transformou. São crianças, jornalistas, operários, fazendeiros dos principais países em conflito que dão voz a milhões de pessoas que viveram a guerra e que guiam o visitante através dos mil objetos, muitos deles cedidos por pessoas que viveram a época, reunidos para aprofundar no conflito.

“Não há uma história da I Guerra Mundial. Há milhares de verdades que acontecem ao mesmo tempo”, detalhou Fritz à Efe.

O passeio pelas histórias da Grande Guerra começa lembrando que a globalização não é algo tão novo, e que em 1914 o comércio internacional e a imprensa já mostravam um mundo muito parecido ao atual, moderno e desenvolvido, mas, ao mesmo tempo, marcado por uma fascinação militarista e nacionalista.

A partir daí, a exposição coloca três perguntas essenciais: Como uma sociedade moderna cai em uma guerra? Como as pessoas se adaptam ao conflito? E por que o massacre se estende, apesar de logo ter ficado claro que nenhum lado poderia vencer?

A resposta à terceira questão, segundo Fritz, é que os representantes da TV dizem ao povo várias vezes que é preciso aguentar apenas um pouco para vencer o inimigo.

A descrição do dia a dia na guerra é narrada através de objetos e lembranças cotidianas. Assim, conhecemos o cabo August, que foi salvo de uma bala pelo seu relógio de bolso. Ou podemos ver o violão que o soldado Anton usou e na qual se veem as assinaturas de seus companheiros.

Manuais militares com conselhos para evitar doenças venéreas, listas de preços de garotas de programa e cartões postais com “saudações carinhosas” enviados por prisioneiros de guerra são alguns dos objetos que descrevem a cotidianidade na guerra.

A exposição também mostra jogos infantis dedicados à guerra, desenhos de estudantes com cenas do front e uma redação de um austríaco de 12 anos que exemplifica o doutrinamento patriótico imposto nos colégios.

“Lançamos sobre Dover 39 bombas que provocaram muitos incêndios e explosões. Morreram 30 pessoas e 89 ficaram feridas de gravidade”, descreve o aluno J. Kiberl em seu trabalho de 1916 “Como realizei um ataque noturno sobre Londres com zepelim”.

A visita repassa como a economia teve que se adaptar a uma guerra que ninguém previu que seria tão longa. Mostra os protestos civis, os crimes de guerra, as batalhas fora da Europa, os espiões e relatórios policiais sobre o mal-estar da população.

A exposição também explica uma nova patologia, a neurose de guerra, que no mundo germânico se chamou “tremor de guerra” e que era tratada com métodos tão fortes quanto os choques elétricos.

Outra nova arma, a propaganda, é analisada mediante vários cartazes dedicados à defesa da pátria ou a demonizar o inimigo.

“Nós os bárbaros”, é o irônico título de um cartaz alemão que compara a superioridade alemã com a da França e Inglaterra em alfabetização, prêmios Nobel ou livros publicados. A mostra apresenta também a manipulação que a imprensa fez do conflito, tanto escondendo as derrotas como inventando crimes ao inimigo.

“Em todas as partes houve insatisfação”, declarou Fritz sobre o final da Grande Guerra. “Muita gente colocou o uniforme em 1914 e mentalmente não se desarmaram até 1945”, concluiu. EFE

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