Extremo sul do Chile surge como polo de atração do turismo científico

  • Por Agencia EFE
  • 27/02/2015 10h12
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Júlia Talarn Rabascall.

Puerto Williams (Chile), 27 fev (EFE).- A Reserva da Biosfera Cabo de Hornos, no extremo sul do Chile, é um dos últimos lugares virgens do planeta e emerge agora como polo de atração de um turismo científico, com inquietação por descobrir a biodiversidade deste cantinho subantártico.

“Este lugar é único, o ponto mais austral do mundo não impactado pela chuva ácida e nem pelo excesso de nitrogênio na terra”, explicou à Agência Efe Mary Kalin Arroyo, diretora do Instituto de Ecologia e Biodiversidade e Prêmio Nacional de Ciências Naturais 2010, para mostrar a singularidade desta reserva.

Seu primitivo ecossistema é outro dos motivos que transformam esta paisagem “em um dos melhores lugares para pesquisar as consequências da mudança climática”, destacou Kalin.

Isso se deve a uma necessidade de comparar os estudos realizados nos entornos alterados pelo homem com ecossistemas virgens e intactos, explicou.

Por isso, segundo esta pesquisadora da Nova Zelândia, lugares como esta reserva “são ouro” cientificamente falando, “laboratórios naturais de importância capital para os pesquisadores”.

Além disso, a reserva “tem um potencial enorme para o turismo, não só por sua geografia, mas porque a fauna e a flora têm uma alta proporção de espécies frequentes”, segundo Claudio Wernlin, ex-diretor da Iniciativa Científica do Milênio.

Apesar de seu indubitável potencial como laboratório natural para pesquisas e o turismo de interesses especiais, a capacidade da região para gerar riqueza científica, tecnológica, turística e etnográfica ainda não é aproveitada em seu todo.

A pesquisa científica requer, segundo Kalin, “muito mais infraestrutura e capacidade instrumental”, com um investimento que segundo sua opinião deveria ser “parecido com o feito com os telescópios no Deserto do Atacama”.

“Um investimento destas características teria muito mais impacto do que a astronomia do norte, pois aqui há muito mais o que fazer do que olhar por alguns telescópios”, disse.

Uma melhor conexão “por ar e estrada”, além de “um melhor sinal de internet”, são elementos fundamentais para transformar a reserva em polo do turismo científico, segundo Francisco Ros, que preside a comissão de Meio Ambiente do Conselho Regional de Magalhães.

Em sua opinião, é “indispensável” também que esta aposta seja feita pensando “na conservação”, motivo pelo qual o turismo deve ter “as mesmas exigências de supervisão e vigilância que imperam na Antártida”.

Assim também pensa José Maripani, vice-reitor da Universidade de Magalhães, que aposta no desenvolvimento de um turismo de interesses especiais, “não em massa como em outras partes, mas mais visitantes com interesses científicos ou que queiram visitar lugares irrepetíveis do mundo”.

Uma amostra do avanço da zona para se transformar em uma das capitais científicas do planeta foi a realização, em Puerto Williams, em pleno coração da reserva, do Congresso Internacional de Briologia, ramo da botânica voltado ao estudo de musgos, hepáticas e antóceras.

Nesta semana, mais de cem pesquisadores de todo o mundo se reuniram em Puerto Williams para “trocar os achados que foram feitos neste âmbito e explorar a região, muito rica em briófitas, tanto em diversidade como em abundância”, ressaltou à Agência Efe Bernard Goffinet, presidente da Associação Internacional de Briologia.

O Parque Etno-Botânico Omora, na Ilha Navarino, iniciativa liderada por Ricardo Rozzi, é outra evidência da relevância do lugar como laboratório natural que combina pesquisa, educação, conservação e turismo, em uma experiência, segundo sua opinião, “quase religiosa”.

Este projeto contará em 2017 com o respaldo do Centro Cabo de Hornos, que permitirá desenvolver ciência sócio-ecológica, educação cientificamente ética e conservação através do ecoturismo que, como sustentou a presidente chilena, Michelle Bachelet, no congresso de Briologia, “permitirá fortalecer o trabalho científico chileno”.

Estas iniciativas, segundo seus idealizadores, impulsionam o Chile para o mais alto nível científico do século XXI, no qual será reconhecido por olhar para as estrelas, mas também por indagar os grandes mistérios da vida, muitos dos quais seguem ainda sem revelação. EFE

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