Famílias de todo mundo cobram soluções para sequestros na Coreia do Norte

  • Por Agencia EFE
  • 06/03/2014 06h43

Andrés Sánchez Braun.

Tóquio, 6 mar (EFE).- Cidadãos de meio mundo foram sequestrados durante décadas pelo regime norte-coreano e, agora, suas famílias lutam unidas para conseguir que seus respectivos governos pressionem as autoridades de Pyongyang conjuntamente para garantir tais libertações.

Além de cidadãos da Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Líbano, Romênia e China, a lista de pessoas sequestradas pela Coreia do Norte também pode incluir franceses, italianos, jordanianos, malaios e cingapurenses.

Diante da falta informações sobre as vítimas, em 2007, os familiares dos estrangeiros sequestrados decidiram iniciar a Coalizão Internacional para Resolução de Sequestros da Coreia do Norte (ICRNKA), organização que se reuniu nesta semana passada em Tóquio.

Seu presidente, o japonês Shigeo Iizuka, destacou em um encontro com a imprensa internacional a importância do recente relatório da ONU sobre Direitos Humanos no país asiático, que expõe uma clara dimensão desses sequestros.

Os países com mais denúncias de familiares sequestrados são Coreia do Sul, que teve cerca de 83 mil cidadãos raptados durante a Guerra da Coreia e cerca de 500 após o cessar-fogo, e Japão, onde uma centena de casos foram notificados, embora a chancelaria japonesa só tenha confirmado 17 até agora.

A irmã de Iizuka, a japonesa Yaeko Taguchi, desapareceu sem deixar qualquer tipo de rastro em junho de 1978, quando tinha apenas 22 anos.

A familía Taguchi não teve qualquer tipo de informação sobre o paradeiro de sua filha até o ano de 1988, quando Kim Hyon-hui, o espião norte-coreano que detonou o voo 885 da Korean Air em 1987 com 115 passageiros a bordo, confessou ter tido uma professora de japonês que coincidia com a descrição de Yaeko depois de ter sido preso (com um passaporte falso japonês).

Nesse momento, o testemunho de Kim representou a primeira prova consistente de que o regime norte-coreano não só tinha os cidadãos sul-coreanos na mira como também capturavam residentes de outros países para ajudar a formar seus espiões ou para emparelhá-los com outros estrangeiros retidos no hermético país.

Este foi justamente o caso de Anocha Panjoy, uma mulher tailandesa que tinha apenas 23 anos quando deixou Macau em maio de 1978.

Segundo relatou em Tóquio seu sobrinho, Banjong Panjoy, descobrir seu paradeiro foi ainda mais complicado do que no caso de Yaeko.

Foi Charles Robert Jenkins, ex-soldado dos Estados Unidos que desertou a Coreia do Norte nos anos 60, que confirmou em 2006, após ser libertado pelo regime comunista, que a mulher tinha sido sua vizinha em Pyongyang.

Segundo Jenkins, pouco após seu sequestro, Anocha se casou com Larry Allen Abshier, outro militar americano que tinha decidido atravessar a fronteira entre as duas Coreias.

Tanto Bonjong como Iizuka acreditam que suas respectivas familiares ainda se encontram vivas, apesar do regime de Pyongyang ter relatado que Yaeko morreu em 1986 em um acidente de trânsito e nem sequer admitiu ter sequestrado a cidadã tailandesa.

É por isso que o presidente da ICRNKA considerou hoje que, através destes simpósios de familiares e de relatórios, se torna “cada vez mais difícil” que a Coreia do Norte – que só reconheceu oficialmente alguns sequestros de cidadãos japoneses – possa seguir negando estas ações.

Essa é uma tarefa na qual o sul-coreano Kim Su-ho, também membro da ICRNKA, está lutando toda sua vida, já que seu pai foi raptado por agentes norte-coreanos em Seul pouco depois do início da Guerra da Coreia (1950-1953).

“Queremos que a Coreia do Norte reconheça o que fez, peça perdão e devolva nossos familiares”, explicou.

No caso de Su-ho, as esperanças que seu pai esteja vivo são poucas e, por isso, quer pelo menos ter o consolo de receber seus restos mortais para lhe dar um enterro digno. EFE

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