Farc pedem perdão a vítimas de massacre de Bojayá e reiteram desejo de paz

  • Por Agencia EFE
  • 18/12/2014 16h55

Havana, 18 dez (EFE).- A delegação das Farc no processo de paz pediu hoje perdão às vítimas da massacre de Bojayá, que deixou 79 mortos em maio de 2002 por causa de um projétil lançado pela guerrilha; e reiteraram sua disposição de conseguir a paz com o cessar-fogo indefinido anunciado ontem.

“Com isso buscamos reconhecer o imenso clamor de paz da nação inteira”, disse à imprensa “Pablo Catatumbo” (alcunha de Jorge Torres Victoria), depois da reunião com representantes das vítimas de Bojayá, uma pequena cidade do Chocó habitada fundamentalmente por comunidades indígenas e afrodescendentes.

O guerrilheiro lembrou que a tragédia aconteceu por causa “do desvio de um projétil artesanal dirigido à posição paramilitar nesse local, e provocou a desgraça e o infortúnio” de cair sobre a Igreja onde a população se refugiava, matando 79 pessoas, entre eles 48 crianças e adolescentes.

“Desde então este fato nos doeu na alma guerrilheira”, disse “Catatumbo” e admitiu que pedir perdão “não devolve nenhuma das pessoas que morreram nem apaga seu sofrimento”.

A guerrilha ressaltou seu compromisso por ressarcir esse dano na medida do possível, não só reconhecendo sua responsabilidade, mas com ações “reparadoras e transformadoras” nas comunidades afetadas.

O representante das vítimas de Bojayá, Leyner Palacios, rememorou os “fatos tristes” de 2 de maio de 2002, quando “a população se encheu de pânico” com os enfrentamentos armados que se sucediam entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e grupos paramilitares.

Para Palacios, a responsabilidade deste fato é compartilhada pelas Farc, que “lançou a pipeta; pelos paramilitares, por utilizar a população como escudo humano; e do Estado por ignorar os alertas e sua conivência com as forças paramilitares”.

Palacios se comprometeu a transferir as desculpas das Farc aos moradores do Bojayá, mas lembrou que “o perdão têm que vir de cada vítima, de cada sobrevivente de maneira individual”.

“As Farc devem mostrar atos concretos que manifestem sua constrição com este fato”, reivindicou.

“Estes fatos não podem se repetir não a contínua vitimização de nossas comunidades”, reiterou.

A massacre de Bojayá comoveu a população colombiana e marcou um ponto de inflexão a partir de recrudescimento conflito armado na Colômbia entre as Farc e as forças estatais e paramilitares.

Foi aí que o conflito entrou na maior fase, após o fracasso do processo de paz do Caguán e em plena implementação do Plano Colômbia, com a presença no terreno de forças rebeldes e paramilitares fortalecidas e de assistência militar estrangeira para o Estado.

O governo colombiano e as Farc mantêm em Havana conversas de paz desde novembro de 2012, com uma agenda de cinco pontos: o problema da terra, as drogas e o narcotráfico, a participação política, a reparação das vítimas e a entrega de armas.

Até agora conseguiram acordos parciais nos três primeiros e continuarão a negociar em janeiro o ponto atualmente em discussão, de reparação das vítimas. EFE

sga/cd

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.