Faxineiras se tornam símbolo de resistência contra ajuste fiscal na Grécia

  • Por Agencia EFE
  • 02/08/2014 06h25
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Remei Calabuig.

Atenas, 2 ago (EFE).- Uma luta que, longe de terminar, as transformou em um símbolo de resistência diante das políticas de austeridade. Há três meses que as faxineiras do Ministério das Finanças da Grécia resistem em um acampamento improvisado na porta de seu antigo posto de trabalho em protesto contra as demissões.

Organizadas em turnos de manhã, tarde e noite, esta reivindicação se transformou em seu novo emprego desde que há um ano o Ministério comunicou a estas 595 mulheres que não precisava mais de seus serviços.

“À noite sempre estamos em pelo menos oito, e quando somos menos chamamos pelo telefone e outras vêm”, explicou à Agência Efe Constantina, uma destas combativas mulheres.

Após 13 anos como faxineira, esta mulher de 38 anos agora sobrevive com 330 euros por mês, já que desde que foram despedidas nenhuma delas recebeu a indenização correspondente.

“Não conseguiram nos tirar daqui. Isto se transformou no centro de nosso protesto. É muito difícil estar aqui 24 horas por dia, mas estamos conseguindo aguentar e não abandonaremos em nenhum só momento”, garantiu Constantina em frente à sede do Ministério.

Em maio elas ganharam uma pequena esperança quando um Tribunal de Primeira Instância de Atenas decidiu que o Ministério devia readmiti-las até que o processo judicial em curso terminasse, uma decisão que poucas semanas depois foi revertida pela Suprema Corte.

Em várias manifestações e em várias tentativas de reunir-se com o ministro das Finanças, Gikas Jarduvelis, estas mulheres enfrentaram a polícia, que não hesitou em usar a violência para contê-las.

Alguns destes confrontos provocaram ferimentos graves a ponto de serem hospitalizadas, o que catapultou sua luta às manchetes da imprensa internacional.

As 595 trabalhadoras faziam parte do rol de funcionários da estatal e eram responsáveis por limpar o Ministério e as delegações de Fazenda de todo o país, até serem colocadas pelo governo, em setembro do ano passado, no esquema de reserva laboral.

Os funcionários incluídos neste plano passaram a receber 75% do salário durante oito meses, e no fim desse prazo devem ser transferidos para outro posto da administração em que houver vagas, e caso não haja serão definitivamente despedidos.

A demissão das 595 faxineiras faz parte do pacote de corte de 11 mil empregos públicos que o governo do conservador Antonis Samaras pactuou com a “troika” de credores em troca da ajuda financeira à Grécia.

“Considero um ataque e um insulto que nos ocupemos o dia todo deste tema quando temos 1,5 milhão de desempregados”, afirmou a porta-voz do Executivo, Sofia Vultepsi, em declarações recentes.

Vultepsi argumentou que “somos todos faxineiras, mas nem todos podemos ser funcionários”, só aqueles “com algum tipo de formação em uma determinada matéria, como médicos, enfermeiros, professores e policiais”.

A batalha das faxineiras não é diferente da mantida por outros funcionários públicos afetados pelo corte – médicos, professores, policiais municipais e os antigos empregados da rádiotelevisão pública “ERT”, mas o modo como escolheram protestar as transformou em um símbolo da rejeição popular à política de cortes do governo.

No entanto, nem as dificuldades econômicas nem a dureza policial abalaram o ânimo delas.

“Agora já não tem nenhum sentido voltar para nossas casas. Temos que continuar e venceremos. Só com a luta podemos ganhar”, explicou Yuli, uma das veteranas de 55 anos que dedicou 20 deles ao Ministério.

Yuli antecipou que se a justiça grega, que deve se pronunciar em 23 de setembro, decidir contra elas, recorrerão aos tribunais europeus.

Ela também não está em uma situação fácil. Calcula cada centavo para que os 400 euros que recebe por mês deem para pagar aluguel, luz e manter seus dois filhos.

Mas não estão sozinhas. Estas mulheres se sentem acolhidas pelo apoio popular que a causa conquistou, pois, como exemplificou Constantina, a cada dia as lojas ao redor levam cafés e kuluris (típico bolo grego), em sinal de solidariedade.

O exemplo mais claro foi o show que a grande dama da canção grega, Xaris Alexiu, fez há poucos dias na praça Syntagma para mostrar, com direito a luvas de plástico de faxina, seu apoio a estas mulheres.

“Todos somos faxineiras”, gritou Xaris para as milhares de pessoas que pareciam compartilhar totalmente esta opinião.

Representantes das faxineiras ocuparam o palco várias vezes para cantar junto da estrela, em uma noite em que Atenas homenageou estas lutadoras que já são um símbolo de oposição aos ajustes que afetam o povo grego. EFE

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