Fechamento de fronteira entre Colômbia e Venezuela gera crise humanitária

  • Por Agencia EFE
  • 25/08/2015 22h38
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Gonzalo Domínguez Loeda.

Cúcuta (Colômbia), 25 ago (EFE).- A fronteira entre Colômbia e Venezuela completa seis dias de fechamento nesta terça-feira, uma medida ordenada pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, após um ataque de supostos contrabandistas que criou uma crise humanitária com mais de mil colombianos deportados.

Até esta terça-feira, 1.113 colombianos foram forçados a abandonar o pouco que construíram em anos ou até décadas na Venezuela, sem saber que futuro lhes espera em seu próprio país. Ou mesmo se terão a oportunidade de retornar algum dia a San Antonio e a outras localidades onde deixaram parentes, amigos, casas e objetos pessoais.

Através da Ponte Internacional Simón Bolívar, via que liga a cidade colombiana de Cúcuta a San Antonio, na Venezuela, 1.071 colombianos residentes no estado Táchira foram deportados pelo governo de Maduro, que alega estar em uma luta contra contrabandistas e paramilitares na fronteira. Mais ao norte, em Paraguachón, uma cidade no caribenho departamento de La Guajira, 42 colombianos saíram hoje da Venezuela deportados ou repatriados.

Esse movimento em massa de pessoas criou no lado colombiano uma crise humanitária que tem as crianças como as maiores afetadas, já que, ao todo, 241 são os menores de idade deportados.

A Colômbia reagiu e habilitou centros esportivos em Cúcuta para que seus cidadãos tenham um lugar onde dormir ao voltarem. Dezenas de voluntários da Cruz Vermelha trabalham sem parar nesses acampamentos provisórios, entregando alimentos e atendendo as necessidades médicas e psicológicas desses colombianos.

Hoje de manhã, o drama aumentou. Com medo de serem deportados e perderem seus bens, os colombianos que vivem na Venezuela decidiram abandonar seus lares e atravessar com a água na altura da cintura o Rio Táchira, na fronteira entre os dois países.

Carregando nos ombros tudo o puderam levar, homens, mulheres e até crianças arriscaram suas vidas e atravessaram irregularmente a fronteira por atalhos que criaram no rio em filas que pareciam não ter fim, uma cena dramática que poderia ter sido tirada de um filme de guerra. Apesar do risco, centenas de colombianos chegavam a seu país de origem trazendo armários, eletrodomésticos, animais e móveis.

O trajeto é possível porque, pela primeira vez em semanas, a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) da Venezuela começou a desviar seu olhar dos colombianos. Os agentes observam imóveis as pessoas que levam seus móveis e utensílios, sem interromper o caminho.

Do outro lado, a Polícia Colombiana colabora. O órgão organizou uma operação com dezenas de homens que ajudam a levar os móveis mais pesados e colocou à disposição dos deportados um caminhão utilizado para o transporte de militares.

As histórias que os recém-chegados relatam são apavorantes. De surras que guardas da GNB dão em menores, a casas marcadas com as letras “R” (revistada) e “D” (demolir), que equivalem a uma ordem que as autoridades venezuelanas executam com maquinaria pesada. Muitos deles dizem que passaram os últimos dias escondidos em lugares remotos para evitar que fossem identificados.

“É como com os nazistas”, repetem os cucutenhos como um mantra quando chegam ao outro lado da fronteira.

Esse é outro dos dramas gerados com a crise humanitária, Cúcuta e San Antonio, uma conurbação binacional unida pela Ponte Simón Bolívar, foram separadas por uma cerca de arame farpado que também começou a surgir entre os colombianos. Muitos cidadãos de Cúcuta começam a falar com hostilidade não só de Maduro, mas também de seus vizinhos de San Antonio, com quem há décadas compartilharam a região e que hoje são vistos com receio.

Na cidade, acostumada a viver com o contrabando, já se nota também o efeito no bolso dos cucutenhos, especialmente na hora de comprar a gasolina vinda da Venezuela. Os pontos de venda irregular estão praticamente vazios e o preço quintuplicou.

Enquanto isso, os cidadãos continuam olhando à Ponte Simón Bolívar com a esperança de que a cerca se abra, os homens da GNB e da Polícia de Elite da Colômbia deixem de se encarar com inimizada, e a região volte à realidade.

A esperança está na reunião que acontecerá amanhã na cidade colombiana de Cartagena entre as chanceleres da Colômbia, María Ángela Holguín, e da Venezuela, Delcy Rodríguez, para tentar encontrar soluções para reabrir a fronteira e retomar a normalidade do local. EFE

gdl/cdr

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