Ferguson vive tensão e declara estado de emergência 1 ano após morte de Brown

  • Por Agencia EFE
  • 10/08/2015 19h38

Washington, 10 ago (EFE).- A tensão voltou a se instalar nesta segunda-feira em Ferguson, no estado do Missouri (EUA), com um homem gravemente ferido a tiros pela polícia e mais de 50 prisões durante as manifestações de homenagem por um ano da morte do jovem afro-americano Michael Brown.

As autoridades do condado de Saint Louis, onde se encontra Ferguson, declaram hoje estado de emergência pelo “potencial de danos a pessoas e propriedades” após uma série de episódios violentos ocorridos na noite de domingo e na madrugada desta segunda-feira.

Após uma jornada de protestos pacíficos pelo primeiro aniversário da morte de Brown ontem, a violência retornou à cidade que registrou, há um ano, os piores conflitos raciais das últimas décadas nos Estados Unidos, gerando um movimento em nível nacional.

Um jovem identificado como Tyrone Harris Jr., de 18 anos, ficou gravemente ferido após ser atingido por disparos da polícia local na noite de domingo e segue hospitalizado em estado crítico.

Harris responderá por quatro acusações de ataque em primeiro grau a agentes de segurança, cinco de ação criminal armada e uma por descarregar uma arma de fogo contra um veículo. Foi estabelecida uma fiança de US$ 250 mil em espécie.

Segundo o relato dos policiais, Harris fazia parte de um grupo de jovens que teriam começado a se enfrentar, trocando tiros entre si na noite do domingo.

Quatro policiais que estavam à paisana começaram perseguir Harris, que abriu fogo contra o veículo. Ele seguiu atirando contra os agentes mesmo depois de eles terem saído do carro, conforme as autoridades.

Os agentes devolveram os tiros e acabaram acertando o jovem, que ficou gravemente ferido. Suspensos enquanto o fato é investigado, eles não levavam câmeras em seus uniformes, uma prática cada vez mais recomendada para esclarecer as acusações sobre violência policial.

O pai do jovem ferido, Tyrone Harris, defendeu hoje a inocência do filho e questionou o relato da polícia.

“Meu filho sequer estava armado quando eles dispararam”, garantiu Harris em entrevista ao jornal “The Washington Post”.

A polícia, no entanto, assegura que encontrou uma pistola de 9 milímetros no local. A arma teria sido roubada em outra cidade do estado, mas Harris negou que ela pertencesse ao filho.

Segundo o pai, o jovem foi atacado pela polícia quando “corria para salvar sua vida” após o tiroteio entre dois grupos de jovens na avenida West Florissant, o epicentro dos protestos. Duas meninas que estavam com seu filho afirmam que não estavam armado.

A procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, condenou hoje “categoricamente” todo tipo de violência em Ferguson, “incluindo (a exercida) contra os policiais”.

O governador do Missouri, o democrata Jay Nixon, afirmou em comunicado que “aterrorizam as comunidades com disparos e cometem violência contra policiais são criminosos”, pedindo que novos protestos convocados na cidade sejam “pacíficos”.

Mais de cem pessoas participaram hoje de um ato de desobediência civil. Eles fizeram uma passeata até o tribunal federal de Ferguson, onde chegaram cantando “Black lives matter (Vidas negras importam)”, o lema do movimento antirracismo surgido após a morte de Brown .

Os manifestantes romperam uma barreira policial que bloqueava a entrada do tribunal, sentaram no chão e cruzaram os braços.

Foram presas 56 pessoas no protesto, conforme o jornal “Saint Louis Post-Dispatch”, que informou que vários dos manifestantes pediam a dissolução do Departamento de Polícia de Ferguson.

Depois do assassinato de Brown, em agosto de 2014, o Departamento de Justiça já interveio na polícia da cidade, majoritariamente branca, e descobriu que os agentes mantinham práticas abusivas contra a população negra.

O estado de emergência declarado hoje pelo chefe do condado de Saint Louis, Steve Stenger, prevê que o controle da polícia na cidade de Ferguson passa a ser do comandante do condado, Jon Belmar, com o objetivo de conter as tensões. EFE

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