FHC e líderes políticos pedem que América Latina fale com “uma só voz”

  • Por Agencia EFE
  • 13/05/2014 18h51
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São Paulo, 13 mai (EFE).- Líderes políticos reunidos nesta terça-feira em São Paulo pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em um seminário por ocasião dos dez anos de seu instituto, iFHC, pediram que a América Latina se pronuncie com “uma só voz” no cenário internacional.

“Devemos aprender a falar com uma só voz comum para que nos escutem”, afirmou o ex-presidente chileno Ricardo Lagos (2000-2006) durante o seminário “Alternativas para a América Latina em tempos de escolhas”.

Lagos lembrou que no G20, bloco que reúne as maiores economias do mundo, participam pela América Latina Brasil, México e Argentina, mas sem uma unidade no momento de estabelecer uma posição comum quando se compromete o resto da região.

“Existe uma divisão norte-sul. Há um padrão duplo quando o assunto tem a ver com os Estados Unidos olhando para a região, mas há também um erro nosso, dos latino-americanos, quando falamos do assunto no cenário global”, opinou Lagos.

No mesmo sentido, o ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda perguntou: “Quais podem ser então essas vozes comuns?”; e lembrou que, apesar dos “bons anos” para a América Latina, existem diferenças no interior da região.

“México, América Central e o Caribe seguem caminhos diferentes dos da América do Sul. São caminhos que nos aproximam mais da América do Norte, com manufaturas que em sua maioria vão para os Estados Unidos, enquanto a América do Sul é exportadora de matérias-primas”, destacou.

Para Castañeda, chefe da diplomacia mexicana entre 2000 e 2003, “a divisão entre o norte e o sul gera tensões muito fortes” no interior da região, e, por isso, advogou por uma “ancoragem no sistema jurídico internacional como melhor antídoto para proteger-nos de nosso próprios demônios”.

Anfitrião do encontro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) reconheceu que no cenário global muitas vezes Brasil, México e Argentina “pensaram em seus interesses particulares”.

Lagos fez referência também aos “diferentes desafios” que a América Latina tem pela frente em matéria de “política, economia, cultura e novas tecnologias. O povo pede mais participação. A etapa de ontem era a luta contra a pobreza, mas hoje temos setores emergentes que demandam muito mais”.

“O tema central é a distribuição de receitas. Temos um desafio muito grande na América Latina, que não é responsável pela crise, e entramos em um ciclo político, social e econômico diferente. É um desafio triplo”, ressaltou.

Já o ex-presidente do governo espanhol, Felipe González (1982-1996), salientou o potencial da América Latina como “potência energética e agroalimentar”, mas considerou que ainda falta “talento” para encarar “a revolução informática” imposta pelos desafios do mundo globalizado.

Sobre o mesmo assunto, o ex-presidente uruguaio Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000) comentou que “a América Latina não teve unidade” e, em sua opinião, a região passa por um “certo retorno ao passado”.

“O fenômeno populista sempre existiu”, ressaltou Sanguinetti.

Os líderes também se referiram à “crise de governança” na região e, sobre o caso específico da Venezuela, González expressou que esse país “está em uma catástrofe sem precedentes” e lamentou a falta de posicionamento dos países vizinhos.

“A soma de todos os movimentos de indignação não dará um só programa de governo. Mas me estranha que o Brasil não tenha nada a dizer”, criticou.

Na mesma linha, FHC considerou que a América Latina conta com “democracias autoritárias que têm no voto um aval”, às quais qualificou como “populismo”, e elogiou os “movimentos espontâneos que têm surtido efeito para devolver à sociedade os valores perdidos e garantir que as instituições prevaleçam”. EFE

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