Focas introduziram tuberculose na América

  • Por Agencia EFE
  • 20/08/2014 16h25

Madri, 20 ago (EFE).- As focas foram as responsáveis por introduzir a tuberculose no continente americano há mil anos, conforme um novo estudo que esclarece a história e a trajetória da doença, e descarta que os europeus tenham sido os que a disseminam durante a conquista.

O trabalho é publicado na revista “Nature” e nele participaram pesquisadores da Universidade de Tubinga (Alemanha), a Universidade do Arizona (Estados Unidos), o Instituto de Medicina Tropical da Suíça e a Fundação para o Fomento da Pesquisa Sanitária e Biomédica da Comunidade Valenciana (Espanha).

Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores analisaram esqueletos de três múmias achadas no Peru com mil anos de antiguidade, explicou à Agência Efe Iñaki Comas, signatário deste artigo. Graças às atuais técnicas para sequenciar o DNA eles conseguiram isolar o bacilo da tuberculose.

Segundo Comas, os pesquisadores notaram que o patogênico achado nas múmias estava mais relacionado ao bacilo causador da tuberculose em focas e leões marinhos hoje em dia (“mycobacterium pinnipedii”) do que causa com a doença em humanos (“mycobacterium tuberculosis” e “mycobacterium africanum”).

“A hipótese é que em algum momento as focas transportaram a tuberculose da África para a costa sul-americana, ao Peru”, ressalta o pesquisador, que lembra que estes animais, sua carne e gordura, foram fonte de alimento e refúgio para os humanos.

Da tuberculose se conhece, por estudos científicos anteriores, que sua bactéria – hoje em dia classificada como “mycobacterium tuberculose” e “mycobacterium africanum”- tem 70 mil anos, apareceu no continente africano e acompanhou os humanos modernos que saíram de lá para povoar a Europa e a Ásia. Até agora, indicou Comas, a hipótese mais difundida era que os europeus, durante a conquista, foram os responsáveis por introduzir a doença na América.

No entanto, este trabalho apresenta dados diferentes: “O fato de ter achado o bacilo em múmias de mil anos atrás sugere que, pelo menos, através dos animais a tuberculose já existia na América” antes da chegada dos europeus nos séculos XV e XVI.

Para o diretor do Instituto Max Planck para História e Ciência em Jena (Alemanha) e professor na Universidade de Tubingen, Johannes Krause, o cenário “mais plausível” para a transmissão da doença na América é o das focas (em menor medida também pode ser pelos leões marinhos) através dos oceanos. Segundo Comas, a tuberculose de procedência animal foi historicamente uma fonte desta doença em humanos.

Com a melhoria da higiene e das técnicas de esterilização dos alimentos, a tuberculose de procedência animal em humanos é hoje muito reduzida, destacou o cientista, para quem o seguinte passo será averiguar se tipos que circulam exclusivamente em humanos, e que são os principais causadores da tuberculose atualmente, estavam presentes no continente americano antes da conquista.

Conforme explicou, o genoma desses tipos isolados em ossos humanos há mil anos e procedentes de um mamífero marinho pode dar a chave para descobrir como a bactéria foi capaz de mudar de hospedeiros e se transformar no patogênico que mais gente matou na história da humanidade (se estima que, anualmente, dois milhões de pessoas morram, segundo dados da Universidade de Tubingen).

Este trabalho também apontou que a tuberculose, como é conhecida hoje, poderia ser mais jovem do que o imaginado e, possivelmente, tenha surgido há seis mil anos, afirmou a Universidade de Tubingen em uma nota. EFE

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