Fotos de ex-mulher de Berlusconi acendem debate sobre “direito a envelhecer”

  • Por Agencia EFE
  • 19/05/2014 15h34

Cristina Cabrejas.

Roma, 19 mai (EFE).- As fotos de Veronica Lario, ex-mulher de Silvio Berlusconi, publicadas em uma revista do coração acompanhadas de referências sobre seus quilos a mais e uma suposta negligência, reabriram hoje na Itália o debate sobre o “direito a envelhecer”.

A reportagem publicada na última edição da revista “Chi”, que pertence à família Berlusconi, mostra as imagens de Lario, que acaba de se divorciar do ex-mandatário, com “alguns quilos a mais”, vestida informal com calças e botas de montar a cavalo, sem maquiar e com o pelo recolhido em uma coleta.

Mas o que mais incomodou Lario, além dos comentários sobre seu estado físico, foram os acrescentados na reportagem dos cirurgiões plásticos sobre como poderia melhorar sua imagem com alguns retoques.

Veronica, que durante os 19 anos de casamento com Berlusconi se manteve discreta, rompeu seu silêncio após o divórcio para defender o que definiu como seu direito a envelhecer em paz e sem ser julgada.

“Considero a matéria um ataque inaceitável às mulheres que, como eu, querem envelhecer sem se submeter aos estereótipos da juventude a todo custo”, explicou em entrevista publicada no domingo no jornal “Il Messagero”.

A ex-atriz de cinema, cujo verdadeiro nome é Miriam Raffaella Bartolini, argumentou seu direito a, com quase 60 anos esquecer “os centímetros da cintura e das rugas do pescoço”, mas sobretudo a não ter de escutar ou ler as sugestões dos cirurgiões plásticos.

“Que exemplo damos às meninas que aos 16 anos já pedem como presente de aniversário uma lipoaspiração?”, criticou Veronica.

A indignação deu lugar a que a imprensa italiana se ocupe hoje do tema e publique uma série de reflexões sobre o direito a envelhecer sobretudo nas mulheres.

O direito também era fortemente reivindicado por uma das atrizes italianas mais carismáticas, Anna Magnani, protagonista de “Bellissima” e “Mamma Roma” e “Roma, Cidade Aberta”, que dizia a seus maquiadores: “Deixem que as rugas sejam vistas. Me custou uma vida para aparecerem”.

“As mulheres com Veronica” e “As mulheres berlusconianas. Não se toca em Veronica”, são os títulos de alguns dos artigos que apareceram na imprensa apoiando-a.

A candidata do Partido Democrata (PD) às eleições europeias, Alessandra Moretti, considera a reportagem fotográfica um “último exemplo da cultura machista que mantém as mulheres prisioneiras de um estereótipo de beleza e que não lhes dá direito a envelhecer como se quer ou a viver sua feminilidade sem cair em homologações banais”.

A jovem atriz italiana Cristiana Capotondi aplaude a resposta de Lario, que “demonstra maturidade e sabedoria ao enfrentar um momento da vida importante e o direito a envelhecer com serenidade em relação aos modelos que nos oferecem continuamente”.

“É urgente que os veículos de comunicação comecem a dedicar espaços às mulheres como são, e não apenas às mulheres modificadas com cirurgia plástica (…). Cada um é livre para se submeter à cirurgia plástica, mas não se pode perder a autoestima por ter cinco quilos ou uma ruga a mais”, opina Zanardo.

Representantes do partido de Berlusconi, Forza Itália, também atacaram a “ditadura da eterna juventude” para as mulheres, como a definiu a política conservadora Renata Polverini.

O diretor da comunicação do Forza Itália, Deborah Bergamini, embora sem querer entrar no caso pessoal, defendeu “a reação de uma mulher submetida diariamente a raios X”.

Nem todas as mulheres estão de acordo, pois para a atriz e apresentadora Alba Parietti, “esse é o preço da fama”.

O diretor de “Chi”, Alfonso Signorini, não só defende a publicação das fotos, mas diz que é normal sua revista falar sobre “a celulite de Veronica”. EFE

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