Fragmentos do Corão descobertos no R.Unido podem ser os mais antigos do mundo
Viviana García.
Londres, 23 jul (EFE).- A Universidade de Birmingham, na Inglaterra, encontrou fragmentos do Corão que podem ser os mais antigos do mundo, de mais de 1.300 anos de idade, o que abre a possibilidade de que o autor dos mesmos tenha, inclusive, ouvido as pregações do próprio profeta Maomé.
As peças estavam arquivadas em uma coleção de livros e documentos do Oriente Médio na biblioteca da universidade há pelo menos 100 anos, sem que ninguém notasse sua importância.
Os fragmentos foram descobertos por um catedrático que fazia uma pesquisa e solicitou análises de radiocarbono, que confirmaram a idade do material.
A diretora de coleções especiais da universidade, Susan Worrall, disse à emissora “BBC” que os especialistas que analisaram o texto não imaginaram “nem em seus sonhos” que fosse tão antigo.
“Descobrir que tínhamos os fragmentos mais antigos do Corão no mundo todo foi emocionante”, afirmou Susan.
As análises foram realizadas pela Unidade de Acelerador de Radiocarbono da Universidade de Oxford, também na Inglaterra, que estabeleceram que os fragmentos foram escritos em pele de ovelha ou cabra e podem ser os mais antigos do Corão ainda existentes.
Os testes forneceram uma grande variedade de dados, mas estabeleceram, com uma probabilidade de 95%, que o material foi escrito entre os anos 568 e 645, o mesmo período em que nasce o islã com a pregação de Maomé em Meca.
“As datas nos remetem aos anos da fundação do islã. Segundo a tradição muçulmana, o profeta Maomé recebeu as revelações que formam o Corão, as escrituras sagradas do islã, entre os anos de 610 e 632, o ano de sua morte”, disse David Thomas, professor de cristianismo e islamismo da Universidade de Birmingham.
“A pessoa que os escreveu pode muito bem ter conhecido o profeta Maomé. Provavelmente o viu alguma vez e ouviu suas pregações. Talvez tenha conhecido o profeta pessoalmente”, afirmou o catedrático.
Os fragmentos estão escritos em hijazi, uma forma antiga da língua árabe.
Como as análises de radiocarbono não identificaram um ano exato, mas uma ampla faixa de datas, de quase 80 anos, é difícil estabelecer com segurança que são os fragmentos mais antigos do mundo, pois há outros textos do Corão, em coleções públicas e particulares, que têm uma idade similar.
O especialista em manuscritos da Biblioteca Britânica, em Londres, Muhammad Isa Waley, destacou que se trata de uma “descoberta emocionante”, que “alegrará” o mundo muçulmano.
Waley explicou que os fólios encontrados em Birmingham são “preciosos”, escritos à mão em um “hijazi legível” e que provavelmente foram elaborados durante os primeiros califados.
O califado foi inicialmente liderado pelos discípulos de Maomé como uma continuação do sistema religioso estabelecido pelo profeta, e o primeiro foi o chamado Califado Rashidun, governado pelos Quatro Califas Ortodoxos (632-661), o único reconhecido por sunitas e xiitas.
Segundo a Universidade de Birmingham, os fólios fazem parte da coleção Mingana, formada por mais de 3 mil documentos do Oriente Médio reunidos na década de 1920 por Alfonso Mingana, que nasceu perto de Mossul, no norte do Iraque.
Em sua época, Mingana tinha a missão de fazer viagens ao Oriente Médio para adquirir documentos, sob o patrocínio do empresário Edward Cadbury, da dinastia da famosa fábrica de chocolates Cadbury.
A descoberta foi recebida com grande entusiasmo pela comunidade muçulmana em Birmingham, razão pela qual a universidade já antecipou que os fragmentos serão exibidos ao público em algum momento.
“Quando vi estes fólios me emocionei muito. Tinha lágrimas de alegria. E tenho certeza que gente de todo o Reino Unido virá a Birmingham para vê-los”, disse o presidente da Mesquita Central dessa cidade, Muhammad Afzal. EFE
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