França volta às urnas amanhã para 2º turno das eleições municipais
Javier Albisu.
Paris, 29 mar (EFE).- A França volta às urnas neste domingo para o segundo turno de suas eleições municipais, cuja primeira votação foi marcada por uma emblemática derrota do Partido Socialista (PS), do presidente François Hollande, e por um histórico avanço da legenda ultradireitista Frente Nacional (FN).
À espera da dimensão final da derrota, o governo se prepara para uma iminente reestruturação que pode pôr fim ao mandato de Jean-Marc Ayrault, cuja aceitação como primeiro-ministro é quase tão baixa como a do próprio presidente, o menos popular desde a fundação da V República francesa, em 1958.
A maioria dos analistas políticos locais concorda que a troca de ministros vai acontecer já na próxima segunda-feira, e que para o posto de chefe do governo os mais cotados são os atuais ministros de Interior (Manuel Valls), Relações Exteriores (Lauren Fabius) e Defesa (Jean-Yves Le Drian), além dos prefeitos de Paris (Bertrand Delanoë) e Lille (Martine Aubry) e o presidente da Assembleia Nacional (Claude Bartolone).
Também não está descartado que o presidente mantenha Ayrault como primeiro-ministro para a segunda metade de seu mandato, na qual deverá defender o chamado “pacto de responsabilidade”, um golpe de governo na política de Hollande que o aproxima das exigências da União Europeia e o afasta do eleitorado de esquerda.
Esse pacto, que Hollande detalhou em janeiro, diminui impostos das grandes empresas em troca de que elas aumentem significativamente as contratações.
Embora a comparação do voto local com o presidencial não seja automática, os resultados do último domingo representaram um balanço catastrófico para os socialistas, em um contexto geral de forte abstenção, que chegou a 36,45%.
A esquerda obteve apenas 38,8% dos votos, seis pontos a menos que em 2008, enquanto a centro-direita somou 46,4%. Já os ultraconservadores da FN, que não controlavam nenhuma prefeitura, receberam 4,7% dos votos totais, apesar de terem concorrido em apenas 597 de quase 36.600 municípios.
O dado é ainda mais expressivo se for levado em conta que, em relação ao pleito de 2008, o partido de Marine le Pen quintuplicou seus votos – havia obtido 0,9% há seis anos. Na noite do primeiro turno do pleito atual, o ministro do Trabalho, Michel Sapin, reconheceu que era “evidente” que os eleitores tinham enviado uma mensagem de castigo ao governo: através da abstenção ou do voto na Frente Nacional.
O cenário político-econômico na França não é nada favorável ao governo socialista. Nesta semana se soube que o desemprego, grande inimigo declarado de Hollande, aumentou em fevereiro (0,9% em relação a janeiro), e que o Conselho Constitucional censurou em parte a chamada “lei Florange”, uma iniciativa governamental que previa sanções para as empresas que fechassem fábricas rentáveis.
Por isso, os candidatos socialistas ainda em disputa – amanhã haverá segundo turno em 6.455 municípios – se distanciam das políticas governamentais elaboradas no Palácio do Eliseu.
A franco-espanhola Anne Hidalgo, apontada como grande favorita para se tornar a primeira mulher a comandar a prefeitura de Paris, foi superada no primeiro turno pela conservadora Nathalie Kosciusko-Morizet, que agora parece perto de conseguir o inédito feito.
Hidalgo criticou o governo de seus correligionários em declarações reveladas pela revista “Le Carnard Enchaîné”.
“Alguém pode agradecer a este governo de imbecis que deveríamos mandar para a rua?”, vociferou a candidata socialista ao tomar conhecimento de sua derrota parcial, segundo a publicação.
Renovar o poder em Paris é uma das poucas vitórias às quais pode aspirar o Partido Socialista, que tinha depositado grande esperança em desbancar a direita de Marselha, segunda maior cidade do país. Os esforços não adiantaram, já que seu candidato, Patrick Mennucci, foi superado em primeiro turno pelos conservadores da União por um Movimento Popular (UMP) e pela extrema-direita da Frente Nacional.
No entanto, inclusive a pior das derrotas pode ter um aspecto positivo para Hollande. O presidente se comprometeu a cortar as despesas púbicas em 50 bilhões de euros até 2017, e parte desse ajuste viria das administrações locais. Se a direita conquistar grande parte do poder municipal, seria menos complicado para o governo obrigar os prefeitos a apertar o cinto. EFE
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