Francisco media aproximação de EUA e Cuba e mantém luta para reformar Igreja
Cristina Cabrejas.
Cidade do Vaticano, 22 dez (EFE).- O ano de 2014 foi para o papa Francisco marcado por seu sucesso no papel de pivô da reaproximação entre Estados Unidos e Cuba e por sua luta pessoal para reformar a Igreja Católica, tanto no combate à pederastia quanto para mudar a Cúria ou a organizar um novo Sínodo sobre a família.
Os laços reatados de Estados Unidos e Cuba não teriam sido concretizados sem a intermediação de Francisco, que teve a participação solicitada, primeiro, pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e, depois, pelo próprio presidente Barack Obama. Tanto o governante americano quanto o presidente cubano, Raúl Castro, agradeceram e ressaltaram a participação do pontífice nesse processo, que levou 18 meses para ser concluído, na segunda quinzena de dezembro.
Segundo a Santa Sé, o papa escreveu para os dois líderes “convidando-os a resolver questões humanitárias de comum interesse, como a situação de alguns detidos, para dar início a uma nova fase das relações entre as duas partes”.
Após mais de cinco décadas de inimizade política, EUA e Cuba parecem caminhar agora rumo à reconciliação, depois de o governo do presidente Barack Obama colocar em liberdade três espiões cubanos do grupo chamando de “Os Cinco”, que cumpriam pena no país desde 2001, em troca de um oficial de inteligência americano que estava há quase 20 anos preso em Cuba.
Havana pôs também em liberdade o prestador de serviços ao governo americano Alan Gross, que passou cinco anos preso na ilha acusado de espionagem.
“A Santa Sé continuará apoiando as iniciativas que as duas Nações empreenderão para acrescentar suas relações bilaterais e favorecer o bem-estar de seus respectivos cidadãos”, disse o Vaticano em comunicado no último dia 17.
Já nos primeiros meses do ano, o pontífice aproveitou uma audiência dos membros para o Escritório Internacional Católico da Infância (Bice) para pedir publicamente perdão pelos abusos sexuais cometidos com crianças por “muitos” sacerdotes. E garantiu que a Igreja não daria qualquer “passo atrás” no “que se refere ao tratamento destes problemas e às sanções que devem ser dadas”.
Após esta afirmação, o papa não titubeou na hora de pedir a prisão domiciliar do ex-núncio na República Dominicana, o polonês Jozef Wesolowski, acusado de abusos a menores durante sua estadia nesse país. Para ele, este assunto “tão grave e delicado” deve ser tratado sem demora.
Francisco também decidiu intervir na diocese paraguaia de Ciudad del Este, atingida por escândalos de pedofilia e cruzamento de acusações. Depois do relatório realizado por seu emissário, o cardeal espanhol Santos Abril y Castelló, o papa destituiu em setembro o bispo Ricardo Livieres Plano, que no passado tinha saído em defesa do padre argentino Carlos Urrutigoity, acusado de pedofilia nos Estados Unidos em 2002.
Seu último gesto neste sentido foi o telefonema que deu jovem espanhol que denunciou ter sofrido abusos de religiosos na diocese de Granada e encarregar o bispo local de abrir uma investigação e dar início a comissão criada para cuidar das vítimas da pederastia.
As reuniões do conselho de nove cardeais nomeados pelo papa Francisco para ajudá-lo a governar, conhecido como G9, foram proveitosas durante este ano. Embora seja um trabalho árduo e longo, já é possível ver o que será o projeto da nova Constituição, que regulará a composição e funcionamento da Cúria e o governo da Igreja, para simplificá-la e deixá-la menos articulada.
O primeiro resultado foi a reforma total dos órgãos financeiros do Vaticano, atingidos por escândalos nos últimos anos e que agora dependerão de um único e vigiado “Ministério” da Economia.
O ano de 2014 foi testemunha de um dos mais corajosos e interessantes Sínodos dos Bispos da história da Igreja. Pela primeira vez e graças à transparência pedida pelo papa Francisco, se viu a clara divisão e contraposição entre os representantes mais progressistas e os conservadores.
Os 15 dias de debates, às vezes acalorados, concluíram com a mensagem de que “a Igreja Católica deve ter sempre a porta aberta, recebendo a todos sem excluir a ninguém”, mas os bispos se dividiram sobre as aberturas aos homossexuais e os divorciados que voltam a se casar. As questões ficaram adiadas ao Sínodo de outubro de 2015.
Durante este ano, Francisco não deixou, através da diplomacia dos gestos, de clamar pela paz e pelo fim das desigualdades sociais. Assim, voltou a surpreender com algumas de suas decisões, como convidar para rezar junto a São Pedro os presidentes de Israel e Palestina, ou de fazer sua oração silenciosa no muro de Belém.
Em 8 de junho de 2014, pela primeira vez, um judeu, o israelense Shimon Peres, e um muçulmano, o palestino Mahmoud Abbas, junto com o papa Francisco, rogaram pela paz da região no Vaticano.
Este também foi um ano de grandes viagens. Além de ir à Terra Santa, o pontífice visitou Coreia do Sul e Albânia, viajou para Estrasburgo, para discursar no parlamento Europeu, e foi à Turquia. EFE
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