Francisco visitará um Paraguai agrário e marcado pelas desigualdades

  • Por Agencia EFE
  • 03/07/2015 17h45
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Assunção, 3 jul (EFE).- País com a maior proporção de católicos da América Latina, o Paraguai receberá o papa Francisco durante sua visita à America do Sul, e ele se encontrará com uma população principalmente agrária e uma das mais desiguais na distribuição de terras.

Seria preciso lembrar a visita de João Paulo II, único papa que até hoje foi ao Paraguai, em 1988, para lembrar de uma mobilização como a que é esperada para os dias 10 a 12 de julho.

De fato, o Paraguai aquece os motores desde maio, quando a visita foi oficialmente anunciada, e saudada com efusividade pelo governo, com o presidente Horacio Cartes dizendo que se tratava de uma “bênção” ao país.

Desde então, não há dia em que os principais jornais não dediquem ampla cobertura a essa visita, se debruçando nos pormenores do programa, o menu do papa ou os detalhes das missas que presidirá no santuário de Caacupé e no parque de Ñu Guasú.

A Igreja Católica está chamando fiéis e não fiéis com vários eventos prévios, como missas grandes, reuniões espirituais e concursos como o que escolheu o hino que Francisco cantará durante o evento.

O Paraguai tem população majoritariamente católica (90%), segundo dados de 2014 do centro de pesquisas Pew, com sede em Washington.

Poderia dizer-se que Francisco, grande fã de futebol, “joga em casa” no Paraguai, um país muito diferente hoje daquele que João Paulo II encontrou em 1988, durante os últimos momentos da repressiva ditadura de Alfredo Stroessner, mas que no lado social não avançou nos níveis esperados.

Apesar do crescimento econômico, em média de 4% ao ano na última década, um dos maiores da América Latina, essa bonança não parece alcançar o grosso da população, de 6,8 milhões de habitantes. Desse total, 1 milhão e meio (22,6%), estão em situação de pobreza, e 710 pessoas (10,5%) em situação de extrema pobreza, segundo dados oficiais de 2014.

Além disso, o Paraguai é o país com a segunda maior concentração de terras no mundo, onde 2,6% dos proprietários controlam 85,5% da superfície agrária, segundo a Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O papa se referiu a essa realidade em sua recente encíclica “Laudato Se”, em que defende o “direito natural de se possuir um lote racional de terra” e a necessidade de garantir o acesso a “educação, créditos, seguros e comercialização” de produtos para todos os trabalhadores rurais do Paraguai.

A menção dá a entender que Francisco não desconhece as injustiças sociais do Paraguai, embora a incógnita seja se falará sobre isso em público durante sua visita.

No final de junho, grupos católicos e laicos expressaram seu descontentamento porque o papa não terá durante a visita um diálogo direto com indígenas, camponeses e pessoas de baixa renda que vivem nas cidades, os setores mais marginalizados do país.

De acordo com esses grupos, a agenda papal está organizada para que esses setores assistam como “meros espectadores” à reunião de Francisco com representantes da sociedade civil, prevista para 11 de julho no ginásio León Condou, em Assunção.

A essa reunião assistirão, entre outros, líderes indígenas, porta-vozes de bairros pobres e do coletivo LGBT.

No entanto, o padre Pedro Velasco, sacerdote espanhol que há décadas trabalha no Banhado Sul, uma das regiões pobres de Assunção às margens do rio Paraguai, advertiu que, na reunião, estes grupos serão “convidados de pedra”.

O religioso considerou irônico que Francisco não tenha um encontro só com indígenas, uma das minorias mais pobres do Paraguai, considerando que até João Paulo II o fez, apesar da inicial oposição de Stroessner.

No entanto, Velázquez reconheceu que a visita do papa servirá para que os problemas sociais do Paraguai repercutam no exterior, e ao mesmo tempo será muito importante para a conservadora Igreja paraguaia. EFE

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