Frota russa do Mar Negro bloqueia o porto de Sebastopol

  • Por Agencia EFE
  • 05/03/2014 16h23

Ignacio Ortega.

Sebastopol (Ucrânia), 5 mar (EFE).- A frota russa do Mar Negro bloqueou nesta quarta-feira o porto de Sebastopol, para onde não pôde retornar a principal embarcação da Marinha ucraniana, enquanto a cidade mais russa da Crimeia se soma aos ânimos separatistas na península.

Um navio de desembarque de bandeira russa se encontrava hoje postado na saída do porto, enquanto outros dois permaneciam ancorados na mesma baía, no que parece uma espécie de bloqueio marítimo.

Perante a impossibilidade de deslocar-se livremente, como pôde constatar a Agência Efe, dois navios e dois submarinos da Marinha ucraniana se encontravam hoje ancorados em sua base.

Dada a situação e após uma missão de vários meses contra os piratas somalis no golfo de Áden, a fragata “Guetman Sagaidachni”, a embarcação principal da frota ucraniana do Mar Negro, teve que mudar seu rumo e parar no porto de Odessa.

“Essa decisão foi tomada por medo que a tripulação passe para o lado da Crimeia”, informou uma fonte militar em Sebastopol à agência russa “RIA Novosti”.

Aparentemente, muitos dos oficiais e marinheiros da fragata são oriundos das regiões do leste e sul da Ucrânia, de maioria de origem russa, e expressaram seu desejo de renunciar ao serviço para jurar lealdade às novas autoridades da república.

Durante os últimos dias Kiev denunciou várias tentativas de abordagem de navios da Marinha ucraniana em Sebastopol por parte de soldados russos em lanchas.

O primeiro-ministro pró-russo, Sergei Axionov, assegurou que todos os navios da frota ucraniana do Mar Negro que têm como base Sebastopol devem subordinar-se à nova Marinha de Guerra da Crimeia.

“Aquele que controlar Sebastopol, controlará o Mar Negro”, afirma um ditado popular nesta cidade, onde grande parte da população perdeu algum parente durante a Segunda Guerra Mundial.

Forças sem distintivos tomaram hoje o controle do arsenal da base de mísseis instalada no cabo de Fiulent, não longe de Sebastopol.

“Os russos se comportam como se Sebastopol fosse sua casa. Querem demonstrar que são os donos, mas nós resistimos. Não pensamos em nos render. Somos fiéis ao juramento de lealdade que fizemos à Ucrânia”, disse por sua parte um oficial da Marinha ucraniana à imprensa local.

Ao mesmo tempo, reconheceu que os militares russos não ameaçam atacar as unidades onde se encontram os militares ucranianos, mas entram e tentam convencer os oficiais para que reneguem as autoridades de Kiev.

As forças pró-russas já controlam a base da Guarda Costeira de Balaklava, antiga base secreta de submarinos soviéticos, onde hoje um comando de homens encapuzados vigiava os acessos às instalações.

O que resiste por enquanto é o aeroporto de Belbek, cuja entrada estava hoje bloqueada pelas patrulhas de autodefesa e um caminhão militar russo Kamaz, após o que se escondia um grupo de soldados.

Perante as denúncias de Kiev que os soldados russos são forças ocupantes, as autoridades locais respondem que esses destacamentos são forças de paz.

Em Sebastopol aconteceu hoje um comício no qual os concentrados pediam ajuda humanitária à Rússia, já que as autoridades reconheceram que está acabando o dinheiro para pagar as pensões e outras despesas sociais.

“Somos russos, não ucranianos. Queremos ser parte da Federação Russa. Putin deve nos ouvir”, declarou à Efe um engenheiro aposentado, que lembra com nostalgia os tempos quando a Crimeia era a joia da extinta União Soviética.

Enquanto isso, duas meninas jovens desfraldavam um cartaz em inglês que diz “Putin, te amamos”, algo no que não estão sozinhas, já que a cada certo tempo os manifestantes entoavam o coro: “Putin, Putin, Putin”.

Da mesma forma que o governo da Crimeia, as autoridades de Sebastopol, cuja administração está subordinada diretamente a Kiev, se dirigiram ao Kremlin com o pedido de assistência financeira.

Por outra parte, meios de comunicação locais informaram sobre o incidente ocorrido hoje em Simferopol com o enviado do secretário-geral da ONU, Robert Serry, que foi ameaçado por um grupo de homens armados que quiseram obrigá-lo a retornar ao aeroporto para que abandonasse o território da república autônoma ucraniana.

No entanto, o subsecretário-geral da ONU, Jan Eliasson, de visita em Kiev assegurou que Serry “está seguro e em bom estado em seu hotel”.

Serry é o enviado para a Ucrânia do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e é o primeiro funcionário das Nações Unidas que viaja à península desde a explosão da crise pela intervenção russa. EFE

io/rsd

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