Futuro incerto paira sobre educação de meio milhão de refugiados palestinos

  • Por Agencia EFE
  • 05/08/2015 06h38
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Saud Abu Ramadan.

Gaza, 5 ago (EFE).- Ao todo, 500 mil alunos em vários países do Oriente Médio estão à espera de que a comunidade internacional cumpra seus compromissos com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos, a UNRWA, para saber se o ano letivo começará ou não em 1º de setembro.

A falta de orçamento atinge 700 escolas que a ONU opera nos campos de refugiados palestinos da região, e poderia deixar nas ruas crianças e adolescentes de Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria.

“Por enquanto, a UNRWA não tem financiamento suficiente para manter as escolas abertas de setembro a dezembro deste ano”, advertiu Sandra Mitchell, comissária-geral adjunta da agência em entrevista coletiva realizada esta semana em Gaza.

Apesar disso, Mitchell disse estar confiante em que os países doadores cumprirão com seus compromissos a tempo e enviarão o dinheiro.

“Por isso ainda não decidimos. Queremos garantir à população que estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para encontrar financiamento suficiente”, afirmou.

Seu otimismo, no entanto, não contagiou os pais que têm filhos em uma das escolas administradas pela UNRWA na Faixa de Gaza, território em perene crise humanitária pelos altos níveis de pobreza, a falta de trabalho e as consequências da última ofensiva israelense, “Limite Protetor”, que causou a morte de mais de 2.100 palestinos.

Jamal Ghaben, de 45 anos e com sete filhos, lembra como é “horrível” a vida em Gaza e alerta que, se a UNRWA não reabrir os colégios, seus filhos não terão onde estudar.

“Não sei aonde poderiam ir se as escolas ficarem fechadas”, lamentou.

Para estes alunos, as escolas da ONU são a única alternativa a uma vida nas ruas, a autêntica condenação a submergir-se na pobreza e na destruição de Gaza.

“A UNRWA foi diminuindo aos poucos as ajudas que oferece aos refugiados e agora fechará as escolas. O que o mundo quer da gente?”, se questiona o pai de família.

Segundo Sandra Mitchell, a agência deve preencher um déficit orçamentário de cerca de US$ 100 milhões para poder abrir os centros e é impossível pedir aos funcionários que trabalhem sem remuneração. Ela lembrou que a decisão será tomada no meio deste mês e que a ideia é dar tempo suficiente aos países doadores.

“Tudo o que queremos é cobrir este buraco e construir uma sólida base para o futuro”, declarou.

O comissário-geral da UNRWA, Pierre Krähenbühl, deve participar hoje da reunião dos ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe, no Cairo, para explicar a situação deficitária. Ele também enviará uma carta ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e ao Conselho de Segurança para advertir das consequências.

Sandra Mitchell explicou que na carta serão explicados os riscos políticos, de segurança e econômicos que poderiam representar a paralisação de projetos especiais e programas de ajuda aos refugiados nesta frágil região.

Uma professora de 32 anos de uma escola de Gaza, onde 320 mil alunos dependem da UNRWA, disse à Efe que, há algum tempo, a agência vem advertindo sobre cortes e crise orçamentária, além de possíveis demissões.

“Mas nunca imaginei que chegariam a fechar escolas ou adiar o início do ano letivo”, confessou ela, que disse preferir manter o anonimato.

Segundo a docente, uma decisão deste tipo “poderia gerar violência”.

Tentando acalmar os ânimos, o primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Rami Hamdala, pediu aos países doadores que “cumpram seus compromissos, em particular à luz da crise orçamentária que a organização atravessa”.

Por sua vez, o secretário-geral do Executivo, Ali Abu Diak, rejeitou a possibilidade de adiar a abertura do próximo ano letivo, porque estaria privando meio milhão de alunos de seu direito à educação. EFE

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