“Gaudí brasileiro” se destaca com arte e arquitetura em favela de SP

  • Por Agencia EFE
  • 23/01/2015 16h47
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Alba Santandreu.

São Paulo, 23 jan (EFE).- A ousadia da Sagrada Família e a originalidade do Parque Güell, em Barcelona, atravessaram as fronteiras espanholas e se instalaram na segunda maior favela de São Paulo, onde o “Gaudí brasileiro” constrói há 30 anos sua própria obra-prima.

Herdeiro do estilo que consagrou Antoni Gaudí (1852-1926), Estevão Silva Conceição perpetua a modernidade do artista catalão em sua casa em Paraisópolis, comunidade com cerca de 80 mil moradores que, paradoxalmente, faz divisa e contrasta com um dos bairros mais nobres da cidade, o Morumbi.

À primeira vista, pode parecer que o jardineiro Estevão se inspirou em Gaudí para erguer a eclética casa. Uma impressão equivocada, já que a primeira vez que ouviu falar do gênio espanhol foi poucos meses antes de receber um convite da Fundação Gaudí para comemorar, em 2002, os 150 anos do maior ícone do modernismo espanhol.

“Quando cheguei a Barcelona e soube bem o que Gaudí tinha feito, me emocionei muito. Fui ao outro mundo, eu que vinha da Bahia. Me senti muito orgulhoso do meu trabalho”, comentou à Agência Efe o brasileiro, que hoje tem 57 anos.

Estevão começou a construir sua casa “gaudiana” por acaso, nos anos 80, quando foi morar em Paraisópolis: a roseira que tinha plantado cresceu mais que o esperado e, com isso, ele achou oportuno construir uma estrutura de ferro com cimento para guiá-la. Desde então, nunca mais parou.

Mais tarde chegaram as linhas curvas, os ladrilhos e pedras, o teto em forma de estalactite e rapidamente uma simples residência em uma favela do Brasil se tornou na popularmente conhecida como “Casa de Pedra”, que chega a lembrar a célebre “Casa Milà” (La Pedrera), outra das obras de Gaudí em Barcelona.

Em sua visita à terra do arquiteto espanhol, o brasileiro, cuja obra também se baseia no surrealismo de Salvador Dalí, absorveu a inspiração necessária para incorporar ideias e técnicas de Gaudí.

Estevão, que carece de instrução artística formal, de repente se viu imerso em uma das obras-primas do artista, o Parque Güell.

Lá, o jardineiro, que até os 18 anos se dedicou a montar currais para galinhas na Bahia, aprendeu sobre mosaicos, jogo de cores e sintonia da arquitetura com a natureza que acompanhou uma parte de Gaudí e incorporou esses elementos à paisagem de Paraisópolis.

Da viagem, Estevão trouxe para a maior metrópole da América do Sul duas lembranças da arte de Gaudí: uma réplica da famosa salamandra que fica na escadaria do Parque Güell e um prato de cerâmica do Templo da Sagrada Família.

Ele também levou na mala a ideia de preencher as paredes com óculos, telefones celulares, moedas, santos, bonecos, peças de cerâmica, câmeras fotográficas, trechos da Bíblia e todo tipo de objetos inusitados.

Subindo um labirinto de escadas, Estevão sai da bagunça e se depara com o que chama de “jardins flutuantes”, um lugar tranquilo de onde é possível conferir de perto o contraste entre os luxuosos edifícios do Morumbi e centenas de casas vizinhas sem acabamento da favela.

No alto de sua “Casa de Pedra”, o brasileiro conseguiu realizar um sonho: ter um jardim. O mesmo sonho que há três décadas o levou a plantar uma roseira e que, sem querer, o transformou no “Gaudí brasileiro” antes mesmo de saber quem era o gênio espanhol. EFE

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