“Genocídio armênio” completa 100 anos e população exige do mundo uma reparação histórica

  • Por Thiago Uberreich/Jovem Pan
  • 23/04/2015 17h34
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SÃO PAULO, SP, BRASIL, 22-07-2010, 14h00: Artes Plásticas: "Monumento em Homenagem às Vítimas do Genocídio Armênio", na praça Armênia, que foi adotado e restaurada pelo grupo Induscred. Parte dos monumentos da cidade não foram adotados pelo programa "Adote uma Obra Artística", da Prefeitura de São Paulo. (Foto: Daniel Marenco/Folhapress, 4915, COTIDIANO) Daniel Marenco/Folhapress Monumento em Homenagem às Vítimas do Genocídio Armênio

Nas entranhas da história do Século XX, o “holocauso oculto”, ainda impune, completa cem anos neste 24 de abril. O episódio conhecido como “genocídio armênio” ficou escondido em meio a brutalidade da Primeira Guerra Mundial.

Mais de um milhão e meio de pessoas foram dizimadas pelo Império Turco-Otomano que perdia territórios e era engolido pela nova configuração mundial.

Nas palavras do bispo católico armênio para a América Latina, Dom Vartan Boghossian, uma reflexão sobre o genocídio de cem anos atras:

“Foi premeditado. realizaram-no, mas a terceira parte, que é o reconhecimento e a reparação ainda não foram realizadas. Então do aspecto jurídico, o genocídio ainda continua”.

A população armênia exige do mundo uma reparação histórica, depois de cem anos – até o Papa Francisco fez um apelo.

24 de abril de 1915

Em meio a turbulência da Primeira Guerra, inúmeras aldeias se transformaram em campos de extermínio. O Império Otomano tinha perdido os Bálcãs e corria o risco de deixar escapar os territórios árabes. As autoridades militares temiam que a população cristâ armênia se aliasse a Rússia, inimiga dos turcos.

Começava a carnificina, descrita pelo historiador Jammes Onig: “eles deportavam a população armênia de cada uma das vilas levando para caminhos inóspitos e regiões desérticas e fazendo eles marcharem forçosamente até alguns morrerem de sede, fome e outros que sobreviviam serem fuzilados”.

De acordo com os historiadores, um milhão e meio de pessoas foram exterminadas. Como comparação, o holocausto nazista, na Segunda Guerra, resultou em seis milhões de vidas.

O secretário geral do Comitê Brasileiro para o centenário do genocídio armênio, João Carlos Boyadjian, faz um paralelo: “esse é o primeiro genocídio dos tempos modernos e foi esquecido no tempo. Se esse genocídio tivesse sido lembrado antes da Segunda Guerra Mundial, talvez o Holocausto judeu não tivesse acontecido. Então a grande importância do reconhecimento global é para que esse tipo de coisa não aconteça mais”

O historiador Jammes Onig tem uma explicação: “aconteceu do lado onde a guerra foi muito menos vista, que foi a parte leste do Império Otomano. Então há também uma questão geográfica. Os armênios continuavam lutando, mas a luta deles estava encoberta por essa série de situações, sejam elas de divulgação na mídia, seja ela do grupo ideológico entre capitalismo e socialismo. Por isso que ficou pouco conhecido o genocídio armênio”.

Mais de 20 países já reconhecem o genocídio, como a Alemanha: o Brasil está fora da lista e a própria Turquia não admite a carnificina.

O dia 24 de abril é simbólico: a data em que os otomanos detiveram um grupo em Istambul.

O bispo católico armênio para a América Latina, Dom Vartan Boghossian, acredita que a história será reconhecida: “Habitantes da Turquia, jovens estudiosos, que estão pedindo que o governo termine com essa farsa que reconheça a realidade histórica do genocídio armênio”.

A flor de miosótis, “não-me-esqueças”, simboliza o centenário do genocídio, lembrado, nesta sexta-feira, em cerimônias espalhadas pelo mundo.

Em São Paulo, a advogada Eliane Kurdoglian Lutaif e o filho, Michel, sabem que a história precisa de um futuro: “o que os armênios querem não é uma revanche, vingança ou retribuir o genocídio a Turquia ou prejudicar o povo turco. O que os armênios querem hoje é o reconhecimento”, disse Michel.

“Queremos que o Brasil reconheça que ainda não reconhece o genocídio e, mais que um reconhecimento formal e institucional dos estados e das organizações internacionais, o que os armênios querem é o conhecimento do genocídio. É o que mais importa”, clamou Michel.

“A missa do Papa Francisco representou para nós o colo divino. Aquele colo que o armênio espalhado pelo mundo buscou por 100 anos (…) Genocídio é a herança carregada pelas gerações de armênios por toda a eternidade. Somos armênios e seremos para sempre”, finalizou Eliane.

*Com sonoplastia de Reginaldo Lopes, acompanhe a reportagem completa de Thiago Uberreich no áudio acima.
*Fotos: Reprodução/Youtube
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