Genocídio em Ruanda deixou 800 mil mortos entre abril e julho de 1994
Nairóbi, 3 abr (EFE).- Cerca de 800 mil pessoas foram assassinadas em uma das páginas mais tristes da história, o genocídio de Ruanda, ocorrido no país africano entre abril e julho de 1994.
A maioria das vítimas era da etnia tutsi, embora também tenham sido exterminados hutus – os autores do massacre -, soldados do exército e membros da milícia extremista “Interahamwe” (“os que matam juntos”).
O maior genocídio registrado no mundo, segundo a ONU, começou na noite de 6 de abril de 1994, poucas horas depois de o presidente do país, Juvénal Habyarimana, morrer quando seu avião foi atingido por dois mísseis quando estava perto de aterrissar no aeroporto de Kigali.
Habyarimana, que tinha chegado ao poder em 1973 por meio de um golpe de Estado, pertencia à etnia hutu, majoritária no país, com 85% do total de sua população.
Os hutus atribuíram o magnicídio aos tutsis da Frente Patriótica Ruandesa (FPR), movimento guerrilheiro com o qual estavam em guerra civil intermitente desde 1990.
Quando se espalhou a notícia de que Habyarimana tinha morrido, os hutus começaram a matar tutsis e membros moderados de sua própria etnia: homens, mulheres, crianças e idosos foram massacrados a tiros e golpes com armas brancas.
Ruanda, com oito milhões de habitantes, se transformou em uma imensa vala comum diante da passividade do mundo.
Os massacres continuaram até o começo de julho, quando mais de um milhão e meio de ruandeses, sobretudo hutus, fugiram para Zaire (atual República Democrática do Congo), Tanzânia e Burundi após o avanço das forças da FPR, que acabou ocupando Kigali e quase todo o país.
Em apenas 48 horas, as cidades zairenses de fronteira de Goma e Bukavu viram chegar 1,2 milhão de refugiados ruandeses, que viviam em condições miseráveis, o que logo causou surtos de cólera, disenteria, meningite e outras doenças.
Os vitoriosos tutsis da FPR formaram um governo em Kigali e exigiram que os refugiados voltassem ao país, mas ao mesmo tempo pediram à comunidade internacional a formação de um tribunal para julgar os hutus por genocídio.
Em 8 de novembro de 1994, o Conselho de Segurança da ONU aprovou o estatuto do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR), encarregado de investigar o genocídio, com 13 votos favoráveis, a abstenção da China e o voto contra de Ruanda, que se opunha ao poder do tribunal de sentenciar penas de morte.
No dia 2 de setembro de 1998, o TPIR declarou culpado de “genocídio” o ex-prefeito Jean-Paul Akayesu, a primeira sentença deste tipo na história.
Por sua vez, o governo de Ruanda iniciou um Tribunal Supremo composto por juízes nacionais encarregados de processar os mais de 55 mil detidos até então. Quando essa corte foi constituída, em 17 de outubro de 1995, o presidente Pasteur Bizimungu pediu que fossem distinguidos quem planejou o genocídio, quem propagou o ódio e os que executaram as ordens, pois entre os detidos havia menores acusados de assassinato. EFE
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