Genro de Bin Laden é condenado por terrorismo em maior julgamento após 11/9

  • Por Agencia EFE
  • 26/03/2014 17h03

Rafael Cañas.

Nova York, 26 mar (EFE).- Um genro de Osama bin Laden foi declarado nesta quarta-feira culpado de terrorismo em um tribunal federal de Manhattan e pode ser condenado à prisão perpétua, no julgamento de maior entidade contra um responsável da Al Qaeda nos Estados Unidos desde os atentados de 11/9.

O júri considerou por unanimidade que Sulaiman abu Ghaith, um imã kuwatiano de 48 anos, é culpado de três acusações de terrorismo, o que encerrou um julgamento que se desenvolveu durante três semanas nos tribunais federais de Nova York.

Abu Ghaith, vestido de preto com uma camisa branca, ficou impassível e não fez comentários após escutar o veredicto com um sistema de interpretação em árabe.

O veredicto de culpabilidade unânime chegou após apenas um dia de deliberações entre os 12 membros do júri, que encontraram culpado das acusações de conspiração para assassinar americanos (que pode representar até prisão perpétua), apoio a grupo terrorista, e conspirar para dar apoio material a terroristas.

O juiz federal Lewis Kaplan ditará sentença no dia 8 de setembro, segundo informaram à Efe fontes da procuradoria federal do Distrito Sul de Nova York.

Abu Ghaith, casado com Fátima, uma das filhas de Bin Laden, foi o dirigente da Al Qaeda de categoria mais alta julgado em solo americano desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

Havia sido detido em março do ano passado e enviado aos Estados Unidos após ter viajado da Turquia à Jordânia em uma tentativa de se reunir com sua família.

Sua extradição a Nova York para ser julgado em um tribunal civil, em vez de ser levado ao centro de detenção da base naval de Guantánamo (Cuba) para um julgamento militar foi interpretado como uma mudança de política da Administração de Barack Obama.

Ao contrário dos tribunais civis, onde o caso se resolveu em pouco mais de um ano, as cortes militares em Guantánamo correm com enorme lentidão.

“Um júri determinou por unanimidade que Suleiman Abu Ghaith não apenas conspirou para oferecer apoio material à Al Qaeda, um apoio que finalmente deu, mas também conspirou para assassinar americanos”, destacou em comunicado o promotor federal, Preet Bharara.

Abu Ghaith “foi mais que o ministro de propaganda de Bin Laden”, acrescentou o fiscal.

O julgamento, que começou na primeira semana de março, teve seu momento culminante na semana passada, quando o próprio Abu Ghaith subiu ao palanque das testemunhas para emprestar declaração, o que pegou todos de surpresa, por ser muito pouco comum em julgamentos por terrorismo.

Nessa declaração, na quarta-feira da semana passada, Abu Ghaith, reconheceu que foi convocado na noite do 11/9 a uma caverna das montanhas do Afeganistão, onde seu sogro lhe perguntou sua opinião sobre os atentados.

O acusado testemunhou que sua resposta foi que se os Estados Unidos demonstravam que os atentados eram obra da Al Qaeda, “não parariam” até conseguir duas coisas: “matar a Bem Laden e derrubar o regime talibã” no Afeganistão.

Abu Ghaith reconheceu que, nas semanas seguintes, participou da gravação de vários vídeos, tanto com Bin Laden como com seu “número dois”, o egípcio Ayman al-Zawahiri (considerado o atual líder da Al Qaeda).

Em um desses vídeos, advertiu que uma “tempestade de aviões” cairia sobre solo americano, mas em seu testemunho assegurou que a participação nas gravações se limitou a dizer as palavras que seu sogro mandava.

A perguntas de seu advogado, Stanley Cohen, e por meio de um intérprete em árabe, Abu Ghaith alegou que não estava a par dos planos da Al Qaeda de cometer atentados terrorista e negou ter participado da preparação de ataques contra os Estados Unidos.

Além disso, Abu Ghaith afirmou que nunca se tornou um membro da Al Qaeda, mas reconheceu que, como imã, fazia discursos de caráter religioso para os combatentes islâmicos que se formavam nos campos de treinamento no Afeganistão.

No entanto, as imagens dos vídeos que a acusação projetou, nas quais se via claramente o acusado junto a dois principais líderes da Al Qaeda fazendo críticas aos Estados Unidos, acabou pesando mais que seu testemunho.

O promotor Bharara disse que, só horas depois dos atentados do 11/9, Abu Ghaith “estava usando sua posição na hierarquia homicida da Al Qaeda para persuadir outros” para que se unissem “à causa de assassinar mais americanos”. EFE

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