Gigantesca operação humanitária ressuscitou Aceh após tsunami de 2004

  • Por Agencia EFE
  • 25/12/2014 06h26
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Jordi Calvet.

Banda Aceh (Indonésia), 25 dez (EFE).- Sriwahyuni varre a entrada de sua pequena casa, a de número dez, idêntica às demais de um bairro construído o mais rápido possível por organizações humanitárias, após o tsunami que há uma década devastou a região indonésia de Aceh.

Casas como esta em Aceh Besar, junto a barreiras de mangues recém plantados ou a nova estrada do litoral oeste, fazem parte do legado da monumental operação de ajuda humanitária, que deu resposta a uma das piores catástrofes naturais.

Um terremoto de 9,1 graus provocou a onda gigante que em 26 de dezembro de 2004 causou a morte de 170 mil indonésios e arrasou 800 quilômetros de litoral no norte da ilha de Sumatra.

Dezenas de ONGs de todo o mundo foram ao auxílio de Aceh onde, com mais de 200 mil casas destruídas e 560 mil deslocados, foram gastos US$ 6,7 bilhões.

“A devastação foi tão grande! Só ficou a terra. Não havia certidões de óbito nem de propriedade. Foi muito difícil decidir onde construir as casas. Começamos do zero”, explicou Myrna Evora, diretora na Indonésia da Plan, uma das organizações.

A agência para a reconstrução de Aceh (BRR), criada pelo governo indonésio, dirigiu e coordenou a operação que, no fim de seu mandato em 2009, quase não deixou nenhum rastro físico da destruição.

“Para mim foi uma demonstração de grande coordenação, foi tudo planejado muito bem. Se não, agora não estaríamos em uma situação tão estável”, contou Buchari, eleito prefeito de Aceh Besar após o tsunami.

Vendo em detalhe, no entanto, se revela as deficiências de uma tarefa monumental, complicada pela dinâmica das organizações doadoras e sua pressa em gastar o dinheiro concedido, que levou a construir mais casas do que as que foram destruídas.

Meia dúzia de buracos na parede mostra as vezes que Sriwahyuni teve que repor o leve suporte de plástico que sustenta a cortina, um defeito de qualidade que esta indonésia explica pela rapidez com que foi construída a casa.

“A casa é assim-assim. Mas é melhor que a que eu tinha”, disse a flagelada, enquanto mostra um rodapé roído ou como barras de ferro saem do teto desgastado pela umidade seis anos após instalar-se em seu novo lar.

“O trabalho a realizar era enorme e os doadores queriam ajudar logo. Mas ainda não sabíamos do que necessitávamos, não tínhamos feito as avaliações”, explicou Buchari.

“Havia muito dinheiro. Veio todo o setor da ajuda humanitária e a coordenação foi difícil”, disse Evora, que admite que os problemas também aconteceram devido à concorrência entre ONGs para assumir projetos.

“Pescadores que perderam um barco passaram a ter três, e os problemas de sobrepesca que estavam controlados se descontrolaram”, comentou a voluntária.

Outra grande dificuldade foi o conflito de mais de três décadas entre a guerrilha separatista e o governo indonésio, que no dia seguinte do desastre suspendeu a proibição de acesso a Aceh para organizações internacionais.

A analista Lilianne Fan, que trabalhou em Aceh desde 1999, elogia as autoridades indonésias pela maneira como aproveitaram a tragédia para refazer suas relações com a região, e sobretudo os dirigentes da BRR, que envolveram os moradores locais na reconstrução.

“Compreenderam que se encontravam diante de um problema sem precedentes e foram suficientemente valentes, comprometidos e sérios para dar uma resposta”, disse Lilianne.

Mas ao mesmo tempo, a analista critica que a ajuda internacional tenha se concentrado na reparação de danos materiais e a reabilitação de uma sociedade afligida pelo conflito armado que terminou oito meses depois do tsunami ficasse desatendida.

A região, que goza de uma ampla autonomia, é hoje governada por ex-guerrilheiros que, da mesma forma que nos anos de guerra, controlam os principais setores econômicos da região: a exploração mineira e florestal, e as plantações.

“Foi uma oportunidade perdida para uma mudança estrutural. O funcionamento da economia não mudou e continua igual que durante o conflito”, afirmou Lilianne.

Evora, por outro lado, destaca a participação das comunidades afetadas no processo de reconstrução, especialmente das crianças, alvo principal da atenção de sua organização, e como a experiência em Aceh serviu de referencial em outros desastres como o terremoto do Haiti e o tufão “Haiyan” nas Filipinas.

“Vimos que quando as crianças e a comunidade intervêm, esta sai fortalecida. Comparado com outros métodos este dá mais frutos, mudanças mais positivas e sustentáveis”, disse a diretora da organização não-governamental Plan.

“Agora o governo vê que as crianças têm uma voz, a comunidade tem uma voz, as mulheres têm uma voz”, concluiu Evora. EFE

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