Gill Rosenberg: mulher, judia e israelense lutando com os curdos contra o EI
María Sevilhano.
Jerusalém, 20 jul (EFE)- Ser mulher, judia e israelense são três características difíceis de encontrar entre os que lutam na Síria e no Iraque contra o grupo Estado Islâmico (EI), mas que definem Gill Rosenberg, recém-chegada a Israel, após nove meses combatendo os jihadistas com os curdos.
Ela – que tem dupla nacionalidade, canadense e israelense – voltou para sua casa em Israel pondo fim a uma aventura que começou em novembro do ano passado, após sentir o dever moral de não permanecer impassível perante a tragédia que acontece poucos quilômetros ao norte de seu país, explicou recentemente em entrevista coletiva em Jerusalém.
“Acompanhava o que acontecia através das redes sociais, principalmente em Kobani e Sinjar. Queria saber o que acontecia com as pessoas torturadas ou assassinadas, as crianças que se tornam escravas sexuais…”, narrou comovida ao lembrar o que a fez enfrentar o grupo jihadista.
A jovem foi recebida como a nova heroína nacional por alguns setores de um país que optou em manter uma postura neutra perante o conflito que aflige Síria e Iraque. Segundo a imprensa israelense ela é primeira mulher estrangeira a se unir aos curdos na luta para conter o avanço das forças do Daesh (sigla em árabe para Estado Islâmico).
Antes de decidir ir, Gill lembra ter visto nas redes sociais fotos de pessoas presas, mutiladas e perseguidas por sua religião, como com os curdos nas áreas controladas pelo EI.
“Para mim, isso é o que marca a diferença entre uma guerra geral e um genocídio. Eu não podia ficar alheia e apenas observando”, explicou.
Foi então que ela tomou a decisão. Saiu de Israel através da Jordânia e voou a Erbil, no Curdistão iraquiano. De Erbil foi para a Síria e parou em um povoado no qual “havia e há uma grande luta em andamento”. Lá, passou o inverno com muito frio e umidade, enquanto aconteciam os combates regulares contra as forças do EI, mas à distância, sem aproximação.
A israelense, com experiência adquirida no serviço militar de seu país, tinha se juntado às YPG (Unidades de Proteção Popular), a milícia armada do Curdistão sírio.
“Uma vez eu vi as mulheres lutando lado a lado com os homens, como iguais. Aí eu pensei: por que não eu posso ajudar, fazer algo bom e combater o Daesh?”, recordou.
Depois de três meses, decidiu voltar a Erbil em janeiro, onde entrou em contato com uma unidade diferente, da minoria yazidi, com os quais voltou à linha de frente, desta vez no Iraque.
“Foi uma decisão muito difícil”, admitiu a jovem, que ao voltar recebeu um caloroso abraço, especialmente da comunidade curda judia.
Gill evitou criticar abertamente a política de seu governo, mas sugeriu que “poderia fazer mais”. Israel se mantém afastado do conflito sem, aparentemente, assumir uma posição, além de condenar duramente o avanço do EI, apesar da guerra acontecer a alguns metros de sua fronteira.
De tempos em tempo, combatentes feridos na Síria na luta contra o EI cruzam a fronteira para entrar nas Colinas de Golã (território sírio ocupado por Israel desde 1967), onde são acolhidos por unidades militares israelenses, que fornecem ajuda médica e os devolvem a seu território quando se recuperam.
“Eu gostaria de ver o governo israelense tendo uma relação muito mais próxima com esta gente. Sinto, de alguma forma, que os deixamos de lado”, lamentou a jovem, que criticou a falta de apoio internacional ao povo curdo.
Para ela, Israel poderia ajudar os curdos de muitas maneiras, entre elas fornecendo treinamento, armas e equipamentos necessários para combater o EI, que cresceu de forma assustadora no último ano. EFE
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