GM enfrenta sua maior crise de imagem desde a moratória de 2009
Julio César Rivas.
Toronto (Canadá), 8 abr (EFE).- A General Motors (GM) está imersa em uma profunda crise de imagem e confiabilidade, causada pela decisão da antiga direção da companhia de ignorar um defeito que pode ter causado centenas de vítimas apenas nos Estados Unidos.
O problema remonta a 2001, quando a GM detectou problemas em uma mola dentro do tambor do sistema de ignição em alguns de seus modelos.
O defeito pode provocar o apagamento inesperado do veículo em pleno funcionamento, desligando o sistema elétrico e cancelando o funcionamento do sistema de airbag.
Segundo a própria informação da companhia, a falha teria provocado dezenas de acidentes e pelo menos 13 mortos. Outros meios cifram o número de mortos em centenas.
Embora a GM tenha conhecimento do problema há mais de uma década, só começou a chamar os veículos para o recall em fevereiro deste ano.
Foram convocados 2,6 milhões de veículos, 2,2 milhões deles nos Estados Unidos, dos modelos Saturn Ion 2003-2007, Saturn Sky 2007-2010, Chevrolet HHR 2005-2011, Pontiac Solstice 2006-2010, Chevrolet Cobalt 2005-2010 e Pontiac G5 2005-2010.
Pelo menos quatro investigações, inclusive uma de um comitê do Senado americano, estão em andamento para descobrir porque a GM não iniciou o recall muito antes. Na semana passada a CEO da empresa, Mary Barra, foi convocada a prestar depoimento neste comitê.
No sábado, o tradicional programa da televisão americana “Saturday Night Live” (SNL) brincou com a participação de Barra, porque a direção foi incapaz de responder de forma direta e clara muitas das perguntas dos senadores do comitê.
Os comediantes montaram uma paródia em que Barra respondeu com um lacônico “é parte de nossa investigação” a pergunta de quando soube que milhões de veículos da GM sofriam com um grave defeito.
É uma rara “honra” ser forçada a testemunhar em um comitê do Senado americano. Quase tanto quanto ser protagonista de uma paródia da o centro de uma paródia do “SNL”.
E essas homenagens são um perfeito resumo do problema que a nova GM encara: político, com os legisladores, e de imagem com o público americano.
Talvez o mais incompreensível de todo o escândalo em que a General Motors está imersa é que para muitos especialistas ele poderia ter sido evitado de forma rápida e barata.
Pelo que já foi revelado até agora, em 2006 a GM modificou o design defeituoso do sistema de ignição, sem comunicar às autoridades que tinha encontrado um problema e mantendo a numeração do componente substituído, no que parece ser uma tentativa de ocultar um problema.
Mas, embora a modificação não tenha sido capaz de cumprir com as próprias especificações da GM, a fabricante de automóveis seguiu instalando o sistema de ignição defeituoso.
Analistas do setor assinalaram que a substituição do sistema de ignição defeituoso por um sem problemas teria custado à montadora no máximo US$ 2 por unidade.
Na época a GM estava em uma situação econômica crítica, no início de uma crise que quase provocou a falência em 2009 e que só pôde ser evitada com a eliminação de quatro de suas marcas (Saturn, Pontiac, Hummer e Saab) e mais de US$ 50 bilhões em financiamento público.
Desde o início da crise, Barra, que assumiu a direção da GM no último dia 15 de janeiro, deu a entender que a General Motors de hoje, e surgida após a moratória de 2009, é muito diferente da que ignorou ou menosprezou o problema do sistema de ignição durante anos.
Mas, durante o depoimento ao comitê do Senado, os congressistas a advertiram para deixar de se escudar na ideia da velha e nova GM.
Com potenciais multimilionários processos de consumidores e vítimas no horizonte da empresa, além das investigações criminais e novas revelações, parece improvável que o público americano vá distinguir entre a velha e a nova GM.
E para uma empresa que tinha começado a recuperar sua imagem diante do público americano, o impacto pode ser devastador. EFE
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