Golpe de Estado leva imigrantes clandestinos cambojanos a deixarem Tailândia
Noel Caballero.
Bangcoc, 15 jun (EFE).- Os rumores sobre uma possível operação contra a imigração clandestina na Tailândia levaram milhares de imigrantes ilegais cambojanos a voltar para seu país desde que os militares tomaram o poder, em 22 de maio.
O êxodo disparou nas últimas jornadas até passar de 100 mil pessoas que retornaram ao Camboja, segundo os números apresentados pelo Escritório Internacional para a Migração (IOM) na região da Ásia e do Pacífico.
“Apenas nos dois últimos dias, cerca de 70 mil cambojanos cruzaram a fronteira rumo a seu país. Ainda há muitos esperando e pode haver ainda mais a caminho”, declarou à Agência Efe Brett Dickson, coordenador da IOM que se encontra na passagem fronteiriça de Poipet.
Seis cambojanos que estavam indo de caminhonete para a fronteira e um tailandês, o motorista do veículo, morreram na manhã de hoje em um acidente de trânsito na província tailandesa de Sa Keao, que deixou outros 12 feridos.
Veículos de imprensa cambojanos e organizações locais pró-direitos humanos repercutiram os rumores de que os militares atiraram e espancaram trabalhadores cambojanos clandestinos, que foram obrigados a ir até a fronteira em caminhões abarrotados de gente.
“O empresário nos deu duas opções: voltar para casa ou ficar e esperar os militares que poderiam nos prender e até atirar em nós”, denuncia Thai Phoun, que trabalhava no setor da construção na Tailândia, ao jornal “The Phnom Penh Post”.
Segundo várias vítimas, as empresas na Tailândia exigiram o retorno temporário ao Camboja dos trabalhadores imigrantes ilegais depois que a junta militar anunciou sanções de 10 mil bahts (R$ 690) por cada imigrante ilegal empregado e a detenção do trabalhador.
As autoridades tailandesas, por sua vez, negaram os relatos, mas admitem que os imigrantes imigrantes ilegais estão deixando o país por medo de possíveis represálias pela junta militar.
“Não temos certeza do que aconteceu, nem de que os relatórios são verdadeiros. Estamos preocupados porque algo tem que ter acontecido para haver essa maré de gente se movendo ao mesmo tempo. Não é normal”, opina à Efe Dickson por telefone.
A saída incessante de caminhões carregados de pessoas, ônibus e trens lotados continua na fronteira.
Embora as autoridades cambojanas “estejam bem organizadas, algumas ONGs e agências internacionais já estamos na região para apoiar os emigrantes”, diante do risco de escassez de água e de alimentos, aponta o funcionário do Escritório Internacional para a Migração, que também elogia a chegada de muitos voluntários.
A maior parte dos cambojanos que retornaram é de varões adultos, embora haja um elevado número de mulheres, algumas delas grávidas, e crianças.
O ministro cambojano de Trabalho, Ith Sam Heng, assinalou desde Poipet que o governo está preparando um plano para a criação de empregos que absorva a massa deslocada.
O governo do Camboja, além disso, mobilizou mais de 100 caminhões do exército para transportar os imigrantes da fronteira até suas províncias.
Entre 100 mil e 250 mil cambojanos imigrantes clandestinos trabalham na Tailândia, segundo o governo cambojano, que assegura que entrou em contato com as autoridades de Bangcoc para evitar castigos contra esses imigrantes.
Milhares de imigrantes clandestinos, a maioria procedentes de Mianmar (antiga Birmânia) e Camboja, são empregados na Tailândia na construção, na agricultura e no setor pesqueiro e de processados de pescado e marisco, entre outros, onde frequentemente estão expostos a abusos e a exploração.
A junta militar da Tailândia foi o único governo que se opôs à aprovação ontem, em Genebra, do novo protocolo vinculativo da Organização Internacional do Trabalho da ONU contra o trabalho forçado. EFE
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