Gordon Brown, decisivo na vitória do “não” à independência escocesa

  • Por Agencia EFE
  • 24/09/2014 00h21

Londres, 19 set (EFE).- De estilo combativo e com a oratória brilhante, embora em algumas ocasiões até intimidadora, o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Gordon Brown se uniu de última hora à campanha do referendo sobre a independência da Escócia, seu estado e região de origem, e sua contribuição foi decisiva na vitória do “não”.

A forte personalidade, complementada com uma figura corpulenta e uma voz grave, contrastou nos últimos dias com a do outro companheiro do Partido Trabalhista que liderou a campanha a favor da permanência da região no Reino Unido, o também escocês Alistair Darling, mais comedido e menos veemente em seus discursos.

Para muitos, sua aparição, quase estelar, ajudou em grande medida a retomar a liderança para o lado do “não”, formado pelos três grandes partidos britânicos -trabalhistas, “tories” e liberal-democratas-, que entrou em pânico quando a poucas semanas do referendo o “sim” à independência assumiu a liderança nas enquetes.

No entanto, o pressuposto desse papel de líder natural do “não” por parte de Brown, de 63 anos, teve que se preocupar a princípio com um bom número de observadores, que reconhecem que é um superdotado intelectual que, frequentemente, falha em suas habilidades sociais.

Brown, número dois durante anos de Tony Blair, a quem substituiu à frente do governo sem passar pelas urnas em 2007, perdeu as eleições gerais de maio de 2010 e desde então tinha mantido um perfil discreto como deputado.

O político trabalhista, que tem uma cadeira no parlamento britânico pelo circunscrição escocesa de Kirkcaldy e Cowdenbeath, nunca chegou a se conectar com os cidadãos, como fez Blair.

Sim teve qualidades para sobreviver durante os 10 anos de governo trabalhista no Ministério das Finanças, onde ganhou o apelido de “Fênix” após abafar algumas crises de grande escala.

Blair e Brown formaram, portanto, uma dupla perfeita, cada um em seu papel de “policial mau”, mas muitas vezes foi criticado.

Em seus últimos meses como primeiro-ministro, este filho de um pastor da Igreja da Escócia, casado e com dois filhos, foi comparado com um boxeador nocauteado que resistia a jogar a toalha e chegou a ser caracterizado como um homem velho e cansado, incapaz de carregar com o peso das traições.

Sua participação na campanha do “não” à independência de sua Escócia demonstrou que ainda tem fôlego para algumas “brigas”.

Nascido em Glasgow, dizem seus biógrafos que James Gordon Brown herdou de seu pai suas sólidas crenças na necessidade de uma justiça social, combinadas com um sentido quase puritano da razão.

De fato, durante a campanha expôs com paixão a visão trabalhista de por que a Escócia deveria permanecer no Reino Unido, sob o slogan de “Uma União para a justiça social”.

Contam que também mudou profundamente sua personalidade o acidente que quando jovem sofreu jogando ao rugby, que o fez perder a visão do olho esquerdo e que poderia ter causado uma cegueira total.

Com apenas 12 anos, já fazia campanha eleitoral para a associação trabalhista local, com 16 começou seus estudos universitários, com 18 filiou-se ao partido e com 27 alcançou uma cadeira na câmara dos Comuns, onde compartilhava escritório com o homem ao qual o destino o uniria, Tony Blair.

Eram as futuras promessas do trabalhismo: o carismático e popular Blair e o introvertido, intelectual e sempre absorvido pelo trabalho Brown. EFE

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