Governo da China quer intensificar cultivo de transgênicos no país

  • Por Agencia EFE
  • 28/05/2015 06h25
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Adrià Calatayud.

Pequim, 28 mai (EFE).- Envolvidos em polêmicas em grande parte do mundo, os alimentos transgênicos encontraram no governo da China, o país com mais bocas para alimentar do planeta, um aliado forte e decidido a intensificar o seu cultivo.

Após regar durante anos com milhões de iuanes a pesquisa sobre transgênicos, Pequim se dedica agora a divulgar esta forma de cultivo entre sua reticente população, com o objetivo de preparar o terreno para uma comercialização em grande escala.

“Para a China, uma produção agrícola sólida não é somente um assunto econômico, é uma questão sociopolítica. A dependência da importação de comida é vista como um enorme risco à soberania”, explicou à Agência Efe David Matthieu, presidente da empresa de consultoria Daxue, que analisa a evolução, entre outras, da indústria agrária do país.

O gigante asiático tem que sustentar 22% da população mundial – os mais de 1,3 bilhão de habitantes que vivem em seu território – com apenas 7% da superfície cultivável do planeta, embora seus dirigentes também olhem os transgênicos com bons olhos por outras razões.

“Os organismos geneticamente modificados (OGM) representam uma nova tecnologia, mas também uma nova indústria, e têm amplas perspectivas de desenvolvimento”, disse o presidente da China, Xi Jinping, no final do ano passado.

As autoridades chinesas veem o cultivo de transgênicos como uma oportunidade de negócio, como um setor no qual, dadas as restrições que impuseram até agora, seu mercado doméstico é praticamente virgem.

A China só permite a plantação para fins comerciais de algodão e mamão modificados geneticamente, enquanto importa soja – principalmente do Brasil, da qual é o maior comprador -, colza e milho transgênicos.

Apesar dos demais cultivos transgênicos serem proibidos até agora, o grande negócio está no arroz, alimento que os cientistas chineses estudam há anos, já que é quase uma questão de Estado no país mais povoado do mundo. O prato nunca falta na mesa.

“Devemos pesquisar e inovar decididamente, dominar as técnicas e não deixar que as companhias estrangeiras comandem esse mercado”, incentivou o presidente Xi.

Segundo Matthieu, a pesquisa está fortemente controlada pelo Ministério da Agricultura, o único que pode dar a permissão para o cultivo de OMGs, e, por enquanto, pouco ou nada chegou ao mercado.

Os analistas acreditam que os fabricantes de sementes chineses são muito pequenos para competir com gigantes, como as americanas Monsanto, Dupont e a suiça Syngenta, e que o governo chinês espera que as firmas estatais sejam mais competitivas para atuar no setor.

O setor da biotecnologia agrícola foi designado como um dos de maior importância estratégica no Plano Quinquenal 2011-2015 e o objetivo de Pequim é que em 2020 o número de patentes de sementes triplique o de 2013.

Além disso, foi iniciado um plano de concentração empresarial que, entre 2011 e 2013, já reduziu o número de companhias nacionais de 8.700 para 5.200.

“Há, comparativamente, muito investimento e o interesse do governo parece sincero”, comentou Matthieu.

Todos esses projetos se chocam com uma barreira: a reticência da população a consumir alimentos transgênicos.

“Já vi muitas notícias negativas sobre a comida transgênica. Sejam verdadeiras ou não, o melhor é não comê-la”, declarou Eric Wang, um empreendedor chinês de 35 anos.

Já Luo Chunbao, um vendedor, de 56 anos, disse temer que os alimentos transgênicos prejudiquem sua saúde.

Mas há quem pense que os OGM sejam benéficos. “Não foi confirmado que a comida transgênica é prejudicial e, como não prestamos atenção para diferenciar qual é e qual não é, não me importo de comê-la”, afirmou Zhang Yiqiong, uma universitária de 23 anos.

Para Matthieu, em geral, a população conhece pouco sobre os OGMs e ele atribui esta “compreensível desconfiança” ao longo histórico de intoxicações alimentares e às fracas regulações da China.

Atualmente, o Ministério da Agricultura tenta combater esse desconhecimento através de palestras de divulgação e campanhas publicitárias.

Enquanto a União Europeia dá sinal verde aos países-membros para restringir ou proibir o cultivo de transgênicos, a potência asiática, por outro lado, está decidida a fertilizar o terreno para que, quando o uso comercial for autorizado, ele se torne uma obra de engenharia genética “Made in China”. EFE

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