Governo da Venezuela destitui deputada um dia antes de visita da Unasul

  • Por Agencia EFE
  • 25/03/2014 03h03

Alberto Andreo.

Caracas, 24 mar (EFE).- O governo da Venezuela se distanciou nesta segunda-feira ainda mais da oposição ao anunciar que a deputada María Corina Machado perdeu sua cadeira na Assembleia Nacional (AN), o parlamento da Venezuela, um dia antes da chegada de uma comissão de chanceleres da União das Nações Sul-americanas (Unasul) ao país.

Três dias depois que María Corina tentou, sem sucesso, apresentar suas denúncias sobre a situação da Venezuela na Organização dos Estados Americanos (OEA), o presidente da AN, Diosdado Cabello, informou hoje que o fato de a deputada ter sido credenciada nessa organização como representante alternativa do Panamá era uma violação da Constituição.

“Esta senhora aceitou o cargo, não é acidental, a senhora Machado, deixa de ser deputada e nós estamos enviando instruções a partir deste momento para que essa senhora Machado não volte a entrar como deputada pelo menos neste período na Assembleia Nacional”, disse.

María Corina tentou participar na última sexta-feira da sessão do Conselho Permanente da OEA como representante alternativa credenciada pelo Panamá para apresentar denúncias da “repressão” que, diz, existir na Venezuela.

Apesar da viagem a Washington, quase não conseguiu falar no final da sessão porque vários países aliados da Venezuela fizeram uso de uma série de recursos de procedimento para impedir que ela falasse mais.

“Fui à OEA como representante do povo da Venezuela, tive a oportunidade de tomar a palavra por um mecanismo interno. Se o preço que eu devo pagar por ter ido à OEA é este, que hoje me persigam, vou fazê-lo uma e mil vezes”, afirmou hoje María Corina em Lima, onde participa de um seminário.

Cabello argumentou que ao ser credenciada pelo Panamá na OEA a deputada transgrediu, na sua opinião, o artigo 191 da Constituição venezuelana.

O artigo determina que “os deputados ou deputadas da AN não poderão aceitar ou exercer cargos públicos sem perder sua posse, salvo em atividades docentes, acadêmicas, acidentais ou assistenciais, sempre que não suponham dedicação exclusiva”.

María Corina respondeu alegando que Cabello não tem a faculdade para destituí-la de seu cargo, algo que, defendeu, reflete a “fraqueza e o desespero” do governo venezuelano e que tem intenções de retornar “o mais rápido possível” ao país.

O deputado suplente de María Corina, Ricardo Sánchez, que mantinha uma postura afastada da oposição e acompanha a Conferência de Paz lançada por Maduro, disse que “diante dos últimos eventos estamos avaliando com responsabilidade não participar da Comissão da Verdade designada pela AN” na semana passada para investigar a violência nos protestos.

Enquanto isso, foi informada hoje a morte de outro membro da Guarda Nacional em Mérida, no oeste do país, por “franco-atiradores”, segundo o governador do estado, Alexis Ramírez.

Na noite do domingo também morreu uma jovem de 28 anos em Los Nuevos Teques, no estado de Miranda, do qual Henrique Capriles é o governador.

O presidente Nicolás Maduro lamentou essa morte e afirmou que o Tribunal Superior de Justiça (TSJ) tem “responsabilidades” para obrigar Capriles a cumprir com suas obrigações, ao acusá-lo pela violência nos protestos.

“Eu acho que o TSJ tem grandes responsabilidades para obrigar este governador a cumprir com a lei e com os cidadãos, se não que saia, que saia definitivamente o governador de Miranda, covarde”, exclamou Maduro.

Capriles insistiu hoje na entrada em vigor de um novo mecanismo de câmbio para a compra e venda supervisionada de divisas no país, que estabeleceu a taxa de câmbio em 51,8 bolívares por dólar, o que rotulou como uma “Megadesvalorização”.

“O governo seguirá gerando violência, perseguições, assassinatos, detenções, tudo para tentar esconder a pior crise da nossa história”, escreveu Capriles no Twitter.

Tudo isso às vésperas da visita de uma comissão da Unasul que tem como objetivo “acompanhar, apoiar e assessorar” o diálogo político que Maduro promoveu dentro da Conferência Nacional de Paz que tenta buscar soluções para as tensões que vive o país há mais de um mês.

A reunião, da qual se espera que compareçam os 11 chanceleres dos países-membros, entrou em conflito nas últimas horas com a solicitação dos ministros das Relações Exteriores da Colômbia, María Ángela Holguín, e do Paraguai, Eladio Loizaga, para que se amplie a agenda preliminar da comissão.

A Venezuela está imersa em uma onda de protestos contra o governo de Nicolás Maduro que deixou um balanço de mais de 30 mortos, mais de 400 feridos e quase 2 mil detidos, a maioria deles já livres com medidas cautelares. EFE

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