Governo do Mali e grupos rebeldes assinam um acordo de paz em Argel

  • Por Agencia EFE
  • 01/03/2015 10h48

Argel, 1 mar (EFE).- O governo do Mali e os representantes de milícias rebeldes que controlam a parte meridional desse país africano assinaram neste domingo em Argel um acordo de paz, informou a plataforma de mediação internacional.

Em entrevista coletiva convocada na capital argelina, o porta-voz desta plataforma, Nuredin Layadi, assegurou que o pacto prevê “uma transferência significativa” de poderes às regiões do norte do país ao mesmo tempo que garante a unidade territorial.

O acordo está apoiado na proposta discutida na quinta rodada de negociações, disse Layadi, embaixador da Argélia em Bamaco.

Assim, serão criadas assembleias regionais cujos presidentes serão diretamente escolhidos, enquanto as povoações do norte terão uma “maior representação nas instituições nacionais”, explicou o porta-voz.

O acordo, que se baseia na Declaração de Argel de 9 de junho de 2014, é “fruto de uma análise profunda da situação no Mali, em geral, e da natureza das crises que atravessam periodicamente as regiões do norte do Mali em particular”, acrescentou Layadi.

O pacto inclui outras cláusulas destinadas à promoção da paz e à estabilidade no Mali, à aplicação de novas normas de boa gestão pública, à transparência, à promoção do respeito dos direitos humanos, à justiça e à luta contra a impunidade, ao mesmo tempo que reconhece o imperativo da luta contra o terrorismo e a delinquência organizada transnacional.

A assinatura do acordo foi celebrada pelo ministro argelino de Relações Exteriores, Ramtan Lamamra, que qualificou como “um dia histórico que abre perspectivas promissoras de um futuro melhor para todos os malineses”.

O governo de Bamaco e os rebeldes do norte já assinaram um primeiro acordo de cessar-fogo em 19 de fevereiro -dois dias depois do início da quinta rodada de negociações-, destinado a pôr fim à violência que reina no país desde o complexo golpe de Estado de 2012.

O cessar-fogo, aplicado em colaboração com a missão da ONU para Mali (Minusma), incluía a libertação dos detidos no norte do Mali, controlado pelos rebeldes tuaregue desde janeiro de 2012

Desde então, as províncias setentrionais do país africano eram palco de combates entre rebeldes tuaregue associados ao separatista Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA) e grupos armados tuaregue leais ao governo em Bamaco, conhecidos sob o nome de Gatia.

Ambos movimentos paramilitares lutavam pelo controle desta região do nordeste do Mali, sem que o Exército nacional e nem a força de estabilização da ONU tivessem conseguido impedí-lo.

Na quinta rodada de negociações, que terminou com o acordo de paz, se sentaram na mesma mesa membros do governo em Bamaco e enviados dos diferentes grupos políticos e das milícias rebeldes, além de representantes do resto de nações mediadoras como Níger, Mauritânia, Burkina Fasso e Chade.

Também participaram responsáveis de organizações internacionais que tentam fazer avançar o diálogo, como a União Africana, a ONU, a União Europeia, a Organização de Cooperação Islâmica (OCI) e a Comunidade Econômica de Estados de África Ocidental (Cedeao).

A instabilidade política reinou no Mali desde que em 2012 o país fora palco de um golpe de Estado.

A revolta permitiu que o MNLA, além de grupos jihadistas afins ideologicamente aos islamitas de Ansar al Din, a Mujao e Al Qaeda no Magrebee Islâmico (AQMI), tomaram o controle das regiões do norte do Mali, um vasto território, em grande parte desértico, que separa o norte da África da chamada zona subsaariana.

Os três grupos armados controlaram durante cerca de dez meses o norte do Mali, de onde em grande parte foram expulsos graças a uma intervenção internacional liderada pela França em janeiro de 2013. EFE

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