Governo Obama subestimou EI e não quer entrar em nova guerra, diz professora

  • Por Jovem Pan
  • 14/11/2015 18h20
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EFE Os Estados Unidos de Barack Obama subestimaram o poder do Estado Islâmico

As origens e as consequências dos atentados terroristas perpetrados em Paris na sexta-feira vão além da noite de terror na capital francesa. Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Unifesp, fez, em entrevista à Rádio Jovem Pan, uma análise sobre os ataques do Estado Islâmico, sua ligação com a Al-Qaeda e a perspectiva de uma nova guerra que se desenha no mundo.

“É uma guerra, não podemos pensar nela como uma 3ª Guerra Mundial, mas no geral me parece uma guerra de posições. O Estado Islâmico tem avançando de maneira concreta no Oriente Médio, e esse avanço não tem encontrado reação compatível do Ocidente. À medida que ele foi avançando e não encontrou reação, é natural que as fronteiras dessa guerra vão se ampliando, e os atentados são a prova de que se trata de uma guerra que terá novos capítulos em breve, tanto do lado da retaliação, quanto do Estado Islâmico com essa nova agenda tática de atacar alvos ocidentais”, disse a professora. Para ela, as motivações terroristas são mais políticas do que religiosas.

“Vai muito além da religião. Estamos tratando de um projeto político. Com o 11 de setembro, os Estados Unidos tiveram um projeto político, que era combater ações em solo, mas quando eles saíram dessas regiões, principalmente do Iraque, deixaram espaços de poder que foram ocupados por outros grupos políticos. E essa política é associada ao fundamentalismo islâmico porque leva a uma maior conversão e até uma maior atração para determinadas populações, mas de fato é uma agenda de conquista de poder que tem avançado no Iraque e Síria e é um avanço extremamente rápido, para a preocupação de todos”, analisou.

Para Cristina Pecequilo, o EI está intimamente ligado à Al-Qaeda. “Grandes lideranças do EI foram formadas pela Al-Qaeda. Quando ela foi combatida no Afeganistão, já tinha um processo de preparação de terroristas em outros países do Oriente Médio, para que ela pudesse criar mais projetos políticos de natureza agressiva, baseados no terror, nessas outras ações”, afirmou. “O EI é um braço da Al-Qaeda preparado para atuar no Iraque. Hoje eles atuam no Iraque, Síria, com avanço na Líbia. Sempre teremos declarações norte-americanas de que mataram tal líder, mas esse é outro ponto em que Al-Qaeda e EI são muito parecidos: eles têm vários líderes. É como se fosse um polvo, com muitos tentáculos, ou como uma hidra, que você corta uma cabeça, mas que vai aparecer outra no lugar”.

A professora acredita que o governo Obama errou ao lidar com as primeiras ações do Estado Islâmico. “A posição do governo americano contra o EI começa muito errada. Quando houve as primeiras movimentações, logo que o Obama assumiu, já se via o embrião do EI no Iraque. A posição do governo americano foi de subestimar o potencial militar e o potencial de atração do EI. Quando os EUA e seus aliados acordaram para o problema, em 2014, e começaram os bombardeios aéreos, o EI já tinha conquistado muitas áreas estratégicas no Iraque, de produção de petróleo, que hoje financiam suas operações”, disse Cristina, que vê os americanos pouco interessados em uma nova guerra.

“Qualquer mudança para colocar tropas em terra para combater o EI levaria a um projeto muito grave de negociação com a opinião pública norte-americana. Os EUA não querem entrar numa nova guerra. A tendência é que os EUA só mudem a posição se mais atentados desse porte aconteçam. E aí não seria uma movimentação dos EUA, seria via Tratado do Atlântico Norte, a OTAN. Fazer uma invasão por terra é muito simples, o problema é a questão política, conseguir líderes confiáveis e estabilizar o país invadido. Se eles entrarem em terra será uma guerra sangrenta”, concluiu.

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