Governo pró-russo da Crimeia assume o controle da península

  • Por Agencia EFE
  • 04/03/2014 16h44

Ignacio Ortega.

Sebastopol (Ucrânia), 4 mar (EFE).- O governo da Crimeia anunciou nesta terça-feira que assumiu o controle sobre a segurança da península ucraniana, ao mesmo tempo em que deu um ultimato aos últimos oficiais do exército leais a Kiev para que se subordinem às autoridades da república.

“A situação se encontra sob o controle absoluto do governo da república autônoma da Crimeia. Nada ameaça a vida do nosso povo. Coordenamos todas nossas atividades com a frota russa do Mar Negro, mas, atualmente, já não necessitamos ajuda física”, assegurou Sergei Axionov, primeiro-ministro da Crimeia, em entrevista coletiva.

Os milhares de soldados que integram as milícias de autodefesa, ajudadas pelos Berkut, o destacamento antidistúrbios desarticulado pelas novas autoridades de Kiev, controlam todas as saídas e entradas à Crimeia.

Axionov não chegou a mencionar as tropas e comandos russos enviados à república e que cercam as bases das Forças Armadas ucranianas, mas reconheceu que o presidente russo, Vladimir Putin, respondeu positivamente a sua solicitação de ajuda.

“Me dirigi ao presidente russo com um pedido de ajuda a fim de estabilizar a situação e garantir a segurança da população (…) E essa ajuda chegou”, disse.

Axionov, cuja legitimidade não é reconhecida nem por Kiev nem pelas minorias ucraniana e tártara da Crimeia, se mostrou convencido que em breve todas as unidades militares se subordinarão às novas autoridades locais.

“Neste momento acontecem negociações com os chefes das unidades militares presentes na Crimeia, que devem cumprir hoje a ordem de submeter-se às autoridades da república autônoma”, ressaltou Axionovo em Simferopol, a capital deste enclave.

O líder pró-russo assegurou que aqueles soldados que não queiram servir a Crimeia poderão abandonar as fileiras do exército, mas não se verão privados de seus salários ou pensões.

“Me dirijo aos soldados. Não resistam. Subordinem-se às leis vigentes na república da Crimeia. Juraram lealdade a um país que já não existe. Os que deixarem seu posto serão recebidos com aplausos. Não humilhamos ninguém. Ninguém sofrerá represálias. Eu garanto”, afirmou.

Por outro lado, advertiu que “contra aqueles chefes de unidades militares que não se subordinem às autoridades da Crimeia serão abertos expedientes penais”.

“Acabaram as brincadeiras. Neste momento, todas as unidades militares ou estão controladas ou bloqueadas pelas forças de autodefesa que contam com milhares de soldados. Do ponto de vista moral, todos já passaram para nosso lado”, ressaltou, cifrando em 5.500 os soldados ucranianos que já se juntaram às milícias populares.

No que se refere aos navios da Marinha ucraniana ancorados no porto de Sebastopol frente à frota russa do Mar Negro, Axionov proclamou que em breve passarão a fazer parte da Marinha de Guerra da Crimeia.

Embora o primeiro-ministro tenha negado que restem focos de resistência, na base aérea de Belbek, nos arredores de Sebastopol, os soldados leais a Kiev conseguiram recuperar hoje parte da pista do aeroporto, ao avançar tremulando duas grandes bandeiras, uma ucraniana e uma da extinta União Soviética.

Os militares russos (sem distintivo) lhes receberam com disparos para o alto, segundo pôde ser visto em um vídeo postado pela agência local “Unian”, embora, após breves negociações, tenham permitido aos ucranianos tomar posições na base.

Por outra parte, Axionov comentou a possibilidade que o referendo de autonomia convocado para o dia 30 de março seja antecipado e inclusive modificada a pergunta inicial: “Você apoia a autodeterminação da Crimeia no seio da Ucrânia sobre a base dos acordos e tratados internacionais?”.

“Tentaremos conhecer a vontade do povo da Crimeia o mais rápido possível para atuar conforme ela. A Crimeia não reconhece as autoridades de Kiev como representantes legítimos do Estado ucraniano. A Crimeia começa uma nova vida”, comentou.

E, a respeito das aspirações da cidade de Sebastopol de unir-se à nova Crimeia, assegurou que “os crimeos receberão de braços abertos todos os territórios que quiserem se unir”.

Também antecipou que uma delegação do governo russo chega hoje a Simferopol para estudar as propostas das autoridades locais em matéria de assistência financeira e investimento em infraestruturas, e acrescentou que em breve seu governo decidirá sobre o ingresso na União Aduaneira liderada pela Rússia.

“Junto à Rússia estou convencido que poderemos garantir a ordem, a segurança, a tranquilidade e o bem-estar dos moradores da Crimeia”, concluiu. EFE

io/rsd

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