Governo sofre da “Síndrome de Poliana” frente ao surto de zika, diz entidade

  • Por Carolina Ercolin/Jovem Pan
  • 13/01/2016 16h20
  • BlueSky
Paraná promove mobilização contra o mosquito da dengue nesta quarta-feira, 09/12. Curitiba, 08/12/2015 Foto: Venilton Kuchler / ANPr Venilton Kuchler/ANPr Dengue

Para a Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, o Governo Federal sofre da “síndrome de Poliana” ao não se posicionar de maneira firme e realista frente ao iminente surto de zika vírus no país às vésperas do Carnaval.

Mesmo com o aumento do fluxo de turistas em território nacional, o Ministério da Saúde prefere acreditar que tudo vai dar certo, na opinião do presidente da entidade, Artur Timerman.

Para o infectologista, não tratar o caso com o peso que merece é um ato negligente. “Tem um retrato, pra quem conhece é o do mito da Poliana, aquele que acha que tudo vai dar certo. Estamos em uma situação bastante grave e que, ao lado dessas outras doenças que existiam, temos uma com potencial de causar má formação fetal. Isso muda, fica muito mais grave. Eu diria que a pior coisa numa situação como a que estamos vivendo é negligenciar o problema. Eu acho que essa nota negligencia”, explica.

A nota a que o doutor se refere é uma resposta do Ministério da Saúde à Jovem Pan. Perguntamos se existirá alguma recomendação especial aos turistas que vão circular no país nos dias de folia.

Em resumo, o texto afirma que o Brasil tem se organizado para responder à eventos de saúde pública, que trabalha em conjunto com os Estados e municipios onde há fluxo de viajantes para fortalecer a capacidade do SUS e conclui informando que mantêm uma página com orientações para visitantes em quatro idiomas.

Mas é preciso fazer mais, também na opinião do cordenador do Departamento de Medicina Fetal do Hospital Santa Joana, dr. Antonio Moron: “eu acho que aumentar o nível de publicidade, divulgação, nas chegadas de aeroportos, portos, rodoviárias. Deixar claro que estamos diante de um surto muito grande e de aumento de mosquito e possibilidade muito grande de epidemia para essas doenças”, diz.

O Ministério do Turismo ainda não fechou os dados sobre a expectativa de turistas para o Carnaval 2016. Mas, só como base, a previsão encostou nos 7 milhões no ano passado, fora os estrangeiros. E grandes concentrações são práticas que devem ser evitadas em cenários de surto, alerta Dr. Moron.

“As aglomerações, através do Sambódromo, trios elétricos, carnavais de rua, tornam a exposição maior das pessoas de serem contaminadas por uma picada de um mosquito contaminado. Por isso o alerta ao cuidado individual”, completa.

Temos por aqui agravantes bem peculiares, lembra o infectologista Artur Timerman. Afinal, quem usará roupa comprida para se proteger da picada do mosquito no verão brasileiro no meio do sambódromo ou atrás de um trio elétrico? Quem se lembrará de passar e repassar o repelente após um mergulho no mar?

“É uma época em que precisava mais repelente. Nós sabemos que em altas temperaturas e com corpo suando muito o repelente tem que ser passado com muito mais frequência. Nós sabemos que isso é muito pouco feito no Carnaval”, diz.

Já prevendo problemas, a Europa recomendou a “vigilância” de seus Estados-membros diante da proliferação de casos de zika no Brasil alertando, inclusive, os médicos nos serviços públicos do continente. Há ainda uma proibição específica sobre doação de sangue por pessoas que tenham passado por aqui.

É bom lembrar, em abril de 2015, um italiano foi diagnosticado com o vírus ao retornar à Florença depois de passar férias na Bahia. Sobre o posicionamento europeu, o Governo diz que cada país tem autonomia para adotar critérios de triagem para candidatos à doação de sangue que se adequem à sua realidade.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.