Grande liberação de CO2 nos oceanos foi causa do fim de última glaciação

  • Por Agencia EFE
  • 11/02/2015 18h28

Barcelona, 11 fev (EFE).- O final do último período glacial, há 15 mil anos, coincidiu com a liberação de grandes quantidades de dióxido de carbono armazenado nos oceanos do hemisfério sul, apontou um estudo publicado nesta quarta-feira pela revista “Nature”.

Esta foi a conclusão de uma investigação realizada por pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona, da Universidade de Southampton (Reino Unido) e da Universidade Nacional Australiana, que consideram que esta descoberta fornece novos conhecimentos sobre como os oceanos influenciam no ciclo do carbono e na mudança climática.

O trabalho indica que o carbono liberado do fundo dos oceanos na atmosfera provocou um aumento das concentrações de CO2 e um aumento global das temperaturas no planeta.

Para chegar a estas conclusões, a equipe internacional calculou o conteúdo em carbono das águas superficiais ao longo dos séculos mediante a análise da composição química das conchas calcárias de antigos organismos marítimos que habitavam a superfície do oceano há milhares de anos, e que agora jazem sob o leito marinho.

Os oceanos armazenam 60 vezes mais carbono do que a atmosfera, mas ele pode ser trocado rapidamente, em termos “geológicos”, com a atmosfera.

Miguel Ángel Martínez Botín, pesquisador da Universidade de Southampton e codiretor do estudo, explicou que “a magnitude e velocidade destas variações periódicas no CO2 atmosférico ao longo dos ciclos glaciais sugere que as mudanças no armazenamento de carbono nos oceanos influem de maneira importante nas variações naturais do CO2 atmosférico”.

O outro codiretor do estudo é o pesquisador daUniversidade Nacional Australiana (ANU) e ex-pesquisador do ICTA (Instituto de Ciência e Tecnologia Ambientais) da UAB, Gianluca Marino.

Este cientista detalhou que “foram encontradas concentrações muito elevadas de CO2 dissolvido nas águas superficiais do Oceano Atlântico Sul e do Pacífico, e eles coincidem com incrementos no CO2 atmosférico no final da última era glacial, o que sugere que estas regiões atuam como fontes de CO2 da atmosfera”.

“Nossa descoberta apoia a teoria que afirma que uma série de processos que operam no setor sul dos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, a região chamada Oceano Sul, mudaram as quantidades de carbono armazenado nas águas mais profundas”, declarou Marino.

“Quando a comunicação entre estas águas e a atmosfera é limitada, o carbono fica bloqueado nas zonas abissais, distantes da atmosfera, durante todo o período glacial. E nos períodos interglaciais acontece o contrário”, acrescentou o cientista.

Os pesquisadores analisaram centenas de pequenos organismos recolhidos em duas campanhas – uma em um ponto do Oceano Atlântico Sul no meio do caminho entre o Cabo de Hornos e o Cabo da Boa Esperança, a 3.800 metros de profundidade, durante uma campanha da embarcação oceanográfica Polarstern, e a outra em frente à costa do Equador, a uma profundidade de 2.200 metros, a bordo da embarcação oceanográfica Joides Resolution, do International Ocean Discovery Program.

Para Patrizia Ziveri, professora ICREA no ICTA da UAB e coautora da pesquisa, “estes resultados ajudarão a entender melhor a dinâmica de acumulação do CO2 gerado pelo ser humano na atmosfera, já que o oceano é um importante sumidouro de carbono e a maior reserva deste elemento em todo o planeta”.

Enquanto estes novos resultados apoiam um papel primordial dos processos no Oceano Sul nestes ciclos naturais, os cientistas advertiram que a história completa ainda é desconhecida, o resto de processos que operam em outras partes do oceano, como pode ser o Pacífico Norte, e que poderiam ter também um papel importante na variação do CO2 atmosférico. EFE

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