Grécia encerra 2014 em plena crise e à espera da prometida recuperação
Remei Calabuig.
Atenas, 9 dez (EFE).- A Grécia viveu em 2014 seu sexto ano consecutivo de crise econômica e social, um período que o governo de Antonis Samaras vê chegando ao fim enquanto mantém a esperança de que o próximo ano será o da recuperação e o do fim do programa de resgate.
A ponto de terminar 2014, o governo do país segue envolto nas negociações com a “troika” – formada pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) – para a revisão do programa de resgate, longe de poder fechar um acordo no final deste ano como tinha previsto.
Os ministros das Finanças e da Economia da zona do euro aceitaram nesta segunda-feira uma prorrogação de dois meses do resgate à Grécia, até 28 de fevereiro de 2015.
Com isso, o governo fecha o ano sem conseguir seu objetivo de começar 2015 com uma linha de crédito reforçada da zona do euro, que permita à Grécia se financiar sem estar submissa a condições tão severas como as que exigiriam um terceiro resgate.
Pressionado pela sombra de possíveis eleições antecipadas, o governo do conservador Antonis Samaras prometeu que não haveria mais sofrimento para o povo grego em forma de novos cortes, enquanto tentava convencer os credores de que o país poderia começar sua caminhada sozinho, buscando financiamento nos mercados.
A princípio, a parte europeia do resgate termina em 2014, e a do FMI, no primeiro trimestre de 2016, embora a intenção de Atenas seja dar o processo como encerrado o quanto antes.
Este é o ano em que oficialmente a Grécia deixou a recessão dos últimos seis anos com um aumento do Produto Interno Bruto (PIB), que no terceiro trimestre chegou a 1,6%.
Este dado positivo se deve fundamentalmente ao bom andamento do turismo e a uma nova metodologia de cálculo nos países da União Europeia (UE) – que inclui atividades econômicas ilegais como contrabando, trafico de drogas e prostituição -, pois os dados macroeconômicos de outros setores-chave da economia não registraram uma tendência de alta.
A Grécia se despede do ano em deflação, um dos piores indicadores da situação de uma economia com um índice de preços ao consumidor (IPC) que recuou 1,7% com relação ao mesmo mês de 2013.
Igualmente negativos foram os números da balança comercial e da produção industrial, para ficar em apenas dois exemplos.
O principal problema continua sendo a elevada taxa de desemprego que ronda os 25% e afeta praticamente a metade jovem da população.
Vassiliki Mussakis é um bom exemplo de como os grandes números econômicos não melhoraram a vida da maioria dos cidadãos.
Com 47 anos, ela e suas duas filhas se veem obrigadas a viver com sua mãe, que lhes ajuda economicamente, pois após quatro anos ainda não conseguiu um emprego, apesar de ser formada em Trabalho Social e falar quatro idiomas.
“Não tenho nenhuma esperança que isso vá mudar. O pior ainda não passou”, disse à Agência Efe Mussakis, que se confessa “totalmente pessimista”.
Desde 2008, ano que marcou o início da crise econômica na Europa, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), na Grécia foi fechado um a cada quatro postos de trabalho, e 70% do 1,3 milhão de desempregados são de longa duração.
No contexto político, o governo de Antonis Samaras optou por pôr fim à incerteza ao antecipar em dois meses a eleição do próximo presidente da República, votação que, caso não avance, forçará necessariamente a convocação de pleitos gerais.
Com a designação como candidato do ex-comissário europeu Stavros Dimas, Samaras apostou por uma figura que, além de ter liderado vários ministérios, também é conhecido fora do país.
O parlamento votará no próximo dia 17 a candidatura de Dimas por meio do voto nominal nas três sessões.
Para que a candidatura prospere na primeira votação, é necessária uma maioria de dois terços do plenário, ou seja 200 votos, da mesma forma que na segunda rodada (23 de dezembro), enquanto na terceira (29 de dezembro), 180 votos são suficientes.
Caso o parlamento não consiga escolher o presidente, a Constituição estabelece a dissolução da câmara e a convocação de eleições gerais entre três e quatro semanas depois.
Após o pleito, os deputados devem escolher o novo dirigente da República antes da formação do governo.
A coalizão governamental entre conservadores e social-democratas conta apenas com 155 cadeiras, enquanto a maioria dos partidos da oposição antecipou que votará contra o candidato para forçar a realização de eleições. EFE
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