Gregos vão às urnas mais desencantados do que nunca com crise que não acaba

  • Por Agencia EFE
  • 22/01/2015 18h51

Remei Calabuig.

Atenas, 22 jan (EFE).- Pouco mais de dois anos depois das últimas eleições gerais, os cidadãos da Grécia voltam às urnas ainda mais desencantados com o panorama político-econômico do país, pois nada em suas vidas mudou para melhor: a economia não decolou, as receitas de austeridade fracassaram e a pobreza se acentuou.

Após seis anos de recessão, 2014 foi o primeiro ano em que a Grécia registrou um leve crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que segundo os números provisórios do governo – os oficiais serão divulgados somente em fevereiro – foi de 0,6%.

O turismo, principal fonte de receita do país, subiu no último ano, e as previsões do setor apontam que em 2015 a Grécia superará o número recorde de 21,5 milhões de turistas registrado no ano passado.

No entanto, este aumento não foi percebido no comércio. Nem os períodos de liquidações e de Natal serviram para estimular as compras. A melhora dos índices macroeconômicos também não chegou aos bolsos dos cidadãos, que viram desde o início da crise sua receita cair em torno de 40%.

Isso gerou uma nova classe de pobres na Grécia, aqueles que, mesmo tendo conservado seu emprego, têm muita dificuldade de chegar ao fim de mês com alguma renda para encarar as despesas básicas como luz e calefação, que em casos extremos se tornaram artigos de luxo.

Yannis trabalha em uma loja do bairro ateniense de Omonia desde 2008, quando começou a crise.

“Trabalho desde que tinha 16 anos. Antes da crise, trabalhava menos e ganhava mais, e agora trabalho muito mais e ganho menos”, desabafou ele à Agência Efe, acrescentando que mesmo assim sua loja de produtos de um euro não foi tão afetada, já que conseguiu manter os empregos de seus oito funcionários.

“Chegamos ao fundo do poço, é impossível que a situação não melhore”, afirmou.

O desemprego continua sendo o problema mais grave, pois, segundo os últimos dados, beira os 26% e, entre os jovens, passa de 50%, o que fez muitos deles optarem por deixar o país em busca de oportunidades no exterior ou esperar que a crise passe aceitando trabalhos de meio período, muitos deles precários.

“Não temos futuro. Meus amigos estão na mesma situação”, afirmou Eleni, de 22 anos, que teve de interromper seus estudos de contabilidade para trabalhar como vendedora ambulante de cartões telefônicos de uma grande empresa.

Por seis horas de trabalho ao dia Eleni recebe 480 euros por mês, o salário mínimo interprofissional para jovens.

No outro extremo geracional, mas em precariedade semelhante está Kostas, que após “trabalhar duramente a vida toda” recebe 400 euros de aposentadoria e cata latas no lixo para vendê-las para a reciclagem e incrementar sua renda.

A Grécia encerrou 2014 com deflação, um dos piores indicadores da saúde de uma economia.

Ao desemprego se somam os números pouco encorajadores de setores como a construção e a produção industrial, que continuam a cair em relação ao ano anterior e mostram que a economia real não conseguiu decolar.

Para manter as perspectivas de encarar o caminho do crescimento econômico estão os compromissos que o Executivo do conservador Antonis Samaras pactuou com a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre o programa de resgate que implicam uma série de cortes.

Entre estes compromissos se destacam a redução da previdência, o corte de 5.500 empregos públicos, a liberalização completa dos demitidos no setor privado e o fim da proteção contra o despejo de inquilinos de primeiro imóvel.

O novo governo grego precisará negociar os temas que estão pendentes da última parcela do plano de ajuste, que expira no final de fevereiro e que a Comissão Europeia já propôs estender por mais seis meses para evitar possíveis problemas de liquidez.

A negociação com os credores centrou grande parte da campanha eleitoral, e enquanto Samaras prometeu o fim do programa de resgate sem pôr em risco o pertencimento do país à União Europeia, o compromisso do líder da coalizão esquerdista Syriza, Alexis Tsipras, é centrado na renegociação dos acordos com Bruxelas e Washington. EFE

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