Grupo de cubanos em Miami lança guia turístico “secreto” da ilha

  • Por Agencia EFE
  • 30/01/2015 17h49

Emilio J. López.

Miami, 30 jan (EFE).- Os exilados cubanos em Miami (Estados Unidos) querem aproveitar a avalanche turística que se aproxima de Cuba e lançaram um guia “secreto” com uma proposta aos viajantes americanos de que visitem os lugares escondidos da ilha, como “valas comuns” e “centros de tortura” para presos políticos.

Com o título “Guia de Turismo para Visitar Lugares Importantes em Cuba”, o Instituto da Memória Histórica Cubana contra o Totalitarismo lançou o material com fotos sobre os lugares emblemáticos da dissidência passada e presente.

Assim, por exemplo, o visitante pode visitar a Igreja de Nossa Senhora da Caridade do Cobre, em Havana, onde aconteceu o “assassinado o jovem católico Arnaldo Covadonga” em 10 de setembro de 1961, durante uma procissão. O visitante pode ainda ir ao píer do porto do qual zarpou a “embarcação espanhola com mais de uma centena de religiosos expulsos pelo governo revolucionário em 1961”.

O guia é publicado na época em que acontece o reativamento das relações entre Estados Unidos e Cuba e o relaxamento das viagens de americanos à ilha caribenha, uma mudança que representará, segundo os analistas, um notável aumento no número de turistas que viajarão para lá. O propósito do guia é, perante o previsível “aumento do fluxo de viajantes”, sugerir aos americanos a visita a lugares que “não serão mencionados pelos guias” oficiais, mas que são parte da história contemporânea cubana.

Para Ramón Saúl Sánchez, presidente do Diretório Democrático, essa é uma iniciativa “formidável, porque uma das questões fundamentais é que o mundo desconhece a realidade de Cuba”, como o regime castrista “mantém os olhos dos visitantes fora dos lugares e fatos que mostram a verdadeira natureza repressiva” do sistema cubano.

Por isso, segundo Saúl Sánchez, o que o guia faz é informar ao visitante sobre “lugares e eventos nos quais o regime priva os cubanos de seus direitos e é uma maneira de que a verdade saia ao mundo”.

O percurso pela bela Quinta Avenida, uma das principais artérias da capital cubana, é outra atividade sugerida pelo grupo para “evocar as Damas de Branco, mulheres que com flores na mão são violentamente atacadas por multidões manipuladas pelo regime” quando transitam por esta via.

O escritor, jornalista e diretor de cinema cubano Pedro Corzo, membro da direção do Instituto, explicou à Agência Efe que o guia será lançado em breve com uma tiragem inicial de 20 mil exemplares. Eles serão distribuídos em “centros de pesquisa sobre Cuba, institutos acadêmicos dos Estados Unidos que organizam viagens à ilha e algumas agências de viagens de Miami”.

“Eles também serão remetidos a legisladores americanos que promovem as viagens a Cuba e uma boa quantidade será enviada à ilha para que os dissidentes possam promover a sua circulação”, detalhou.

Segundo ele, impulsor desta iniciativa ao lado do também exilado Ángel Desfana, a maior parte dos cubanos, inclusive os opositores do regime, “não têm conhecimento de muitos desses lugares e fatos”.

Outro lugar de particular relevância é o Hospital Psiquiátrico de Mazorra, também em Havana, onde os dissidentes detidos eram torturados com a aplicação de choques elétricos.

O guia sugere também a visita ao município de Regla para “ver a embarcação que alguns jovens sequestraram em 2003 com reféns e tentaram desviar aos Estados Unidos”, mas “que ficou sem combustível antes de chegar à costa da Flórida”. Os três cubanos responsáveis pelo sequestro da embarcação foram fuzilados pelas autoridades cubanas pelo crime de terrorismo.

Outros lugares tristemente célebres são a prisão de mulheres dissidentes de Manto Negro e a de Guanajay. Outra opção é visitar o lugar onde estiveram posicionados os mísseis soviéticos com capacidade nuclear apontando a cidades americanas, ou o “túmulo coletivo” do cemitério de San José dos Ramos, onde foram colocados os corpos sem identificação de mais de 30 guerrilheiros.

Las Villas conta com vários locais históricos, por exemplo, La Ceiba, onde “a ditadura massacrou com uma metralhadora 19 guerrilheiros que ficaram mais de dois anos presos sem julgamento”.

No Oriente cubano está a prisão de Boniato, onde foram feitos “experimentos biológicos” nos quais médicos e agentes da Segurança do Estado submetiam os presos políticos a tortura para “saber qual era o mínimo de calorias indispensáveis que um ser humano podia consumir sem morrer de fome”.

A sobrevivência do passado e a resistência da oposição contam com outro ponto de parada obrigatória: La Cabaña, onde “centenas de cubanos foram fuzilados sem processo judicial”.

Uma visita com grande sentido histórico para os dissidentes é a que leva ao túmulo de Pedro Luis Boitel, líder estudantil que morreu em 1972 em uma greve de fome em uma cela de isolamento reivindicando seus direitos como preso político. EFE

emi/cdr

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