Grupo judeu quer criar animal para aproximar a redenção e o terceiro templo

  • Por Agencia EFE
  • 21/08/2015 13h20

Elías L. Benarroch.

Jerusalém, 21 ago (EFE).- Depois das réplicas do candelabro bíblico, dos instrumentos para as oferendas e das vestimentas sacerdotais, o Instituto do Templo se propôs a criação de uma vaca vermelha, passagem indispensável para a reconstrução do terceiro templo de Jerusalém.

“O significado da vaca vermelha consiste basicamente em um processo exclusivo de purificação e é um requisito para reconstruir o templo sagrado”, afirmou o rabino Haim Richman, diretor internacional de uma instituição que trabalha nos preparativos da redenção.

Segundo as escrituras antigas, a chamada em hebraico “Para Aduma” (literalmente, “vaca vermelha”) era elemento indispensável para erradicar dos israelitas a impureza da morte em seu conceito mais metafísico, por isso que, sem este animal exclusivo, nunca lhes será possível alcançar a vida eterna.

Nesse sentido, a aspiração dos movimentos messiânicos esbarrou sempre com a descoberta deste quadrúpede particular, um obstáculo que o Instituto do Templo procura contornar com um projeto de criação sem precedentes no qual não poupa esforços nem recursos.

“Deve ser uma vaca de pelo marrom-avermelhado, sobre a qual não tenha sido posto jugo, que não tenha trabalhado e que não tenha defeito físico (externo ou interno) que a desabilite para a oferenda”, explicou o rabino em entrevista à Agência Efe em seu escritório de Jerusalém.

A descoberta em 2014 nos EUA de um exemplar Red Angus de pelagem perfeita despertou as esperanças deste e de outros grupos messiânicos, embora em diferentes partes do mundo haja espécies que em princípio atendem às exigências bíblicas, entre elas que não tenha sequer dois pelos de outra cor.

Rodeado de livros e com a bandeira de Israel atrás de suas costas, Richman lembrou, no entanto, que nem toda vaca vermelha cumpre com os requisitos mencionados e que, mesmo assim, não poderiam trazer o animal por impedimentos legais à importação.

Por isso iniciaram um projeto de criação para o qual já recolheu mais de US$ 30 mil em doações e que consistirá em implantar embriões desta espécie americana em vacas locais, até obter delas uma bezerra perfeita que, aos dois anos, possa servir para purificar o povo de Israel com suas cinzas.

Trata-se de um meticuloso ritual descrito na Bíblia e que realizavam os sacerdotes antes de entrar no templo, destruído no ano 70 pelos romanos e que ficava sobre o Monte Moriá.

Trata-se do lugar hoje conhecido como Esplanada das Mesquitas, que abriga a Cúpula da Rocha e a Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado do Islã.

O templo deveria ser recriado pois, segundo estes grupos, sobre um dos lugares mais explosivos do Oriente Médio, um território que Israel ocupa desde 1967 e que os palestinos exigem para seu futuro Estado por considerá-lo, da mesma forma que os judeus, o epicentro de sua identidade nacional.

Em 1980 Israel anexou a parte oriental de Jerusalém, onde fica a esplanada, em uma decisão que a comunidade internacional não reconhece.

Mas nem as tensões nem as reivindicações palestinas freiam a atividade do Instituto do Templo, onde confiam em Deus para ver concretizado o sonho do messias.

“Ter um vaca vermelha completamente kosher (apta) significa simplesmente que o povo de Israel estará muito mais perto da construção do terceiro templo”, disse o religioso sem entrar em espinhosos assuntos políticos.

Segundo o filósofo sefardita Maimônides, ao longo da antiga história judia só foram oferecidos em sacrifício nove exemplares e a décima será sacrificada nos tempos do “messias rei”.

Richman, autor de uma dúzia de livros sobre os rituais do terceiro templo, destacou que ao contrário da ultraortodoxia mais tradicional – que deixa nas exclusivas mãos de Deus a chegada do messias -, seu instituto acredita em uma política mais ativa porque os ordens na Bíblia eram para os seres humanos.

“Deus não nos dava ordens para ele cumprir, o fazia para que nós as cumpríssemos, algumas têm lógica (humana) outras não”, comentou sobre algumas iniciativas que o resto da ultraortodoxia chega a ver com receio.

Nesta política, sustenta que a espera de 2000 anos para achar uma vaca avermelhada pode ser resolvida com a ajuda da ciência, da mesma forma como no passado buscaram e recuperaram espécies animais e vegetais para dar vida às cores e fibras da roupagem dos sacerdotes.

O objetivo agora deste grupo é definir os protocolos para a estrita criação destas bezerras de acordo com a lei religiosa judia (Halachá) e achar os criadores de gado que possam ajudar no nascimento da desejada “vaca vermelha”. EFE

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