Grupos civis temem “efeito Trump” de aumento dos ataques contra latino

Miami (EUA), 26 ago (EFE).- Grupos de direitos civis dos Estados Unidos temem atualmente a possibilidade de que a retórica do pré-candidato republicano à presidência Donald Trump gere ataques contra a comunidade latina no país.

“Está se criando, de novo, uma atmosfera envenenada contra os latinos”, afirmou à Agência Efe Mark Potok, porta-voz do Southern Poverty Law Center (SPLC), que analisa os grupos que realizam manifestações de ódio no país.

O analista se disse temeroso que, a partir das falas de Trump, o debate migratório volte a ser feito com uso de termos depreciativos, como “bebês âncora”, graças as solicitação do magnata de tirar a cidadania automática aos filhos de imigrantes ilegais nascidos nos Estados Unidos.

Potok lembrou que retóricas como esta dispararam em mais de 40% os crimes de ódio contra hispânicos entre 2003 e 2007, período em que o apresentador da emissora “CNN” Lou Dobbs chegou a sugerir que imigrantes traziam hanseníase para os EUA.

Em junho, Trump se referiu aos imigrantes ilegais de origem mexicana como “criminosos” e “estupradores”, durante a apresentação de sua candidatura, além de citar o plano de estabelecer um duro plano migratório contra os “bebês âncora”.

“Este tipo de palavras tem consequências, se transformam em ataques criminosos, especialmente quando vem de personagens bem conhecidos”, garantiu Potok, se referindo ao pré-candidato.

Na semana passada, a polícia de Boston, no estado de Massachusetts, confirmou que as agressões de dois irmãos a um mendigo de origem hispânica foram inspiradas nos comentários de Trump, A vítima, de 58 anos, dormia na rua e acordou com os homens urinando sobre ele. Depois, apanhou com uma barra de metal.

Robert Trestan, diretor da Liga Antidifamação Judaica (ADL, na sigla em inglês), na região de New England, disse à Agência Efe que os candidatos, funcionários eleitos e líderes comunitários “não devem utilizar linguagem incendiária”, para evitar incidentes como o de Boston.

O relatório policial, divulgado pela imprensa, aponta que um dos irmãos disse, depois das agressões, que “Trump tem razão, e todos os ilegais deveriam ser deportados”

“Sempre há uma preocupação de um contra-ataque quando a linguagem que desumaniza ou a esteriotipação a um grupo de pessoas se torna lugar-comum”, afirmou Trestam.

Já Salvador Sarmiento, diretor da NDLON, coalizão nacional que agrupa mais de 45 grupos de trabalhadores imigrantes, também apontou preocupação com os discursos do pré-candidato republicado.

“Trump está dando coesão a forças de ódio que, às vezes, ficam dispersas ou que não têm identidade, tornando-as uma força muito perigosa”, disse o representante da entidade, que se disse em alerta com a possibilidade de uso de violência. EFE