Guardas dizem que não viram confronto, só os tiros do agente que matou criança

  • Por Estadão Conteúdo
  • 28/06/2016 08h13
Divulgação Chevette em que estava o garoto de 11 anos baleado no banco de trás pelo GCM

A versão de que um menino de 11 anos foi morto durante confronto com a Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo no sábado, 25, é colocada em dúvida por dois dos três guardas que participaram da ocorrência. Eles disseram que não têm condições de afirmar que houve troca de tiros entre o parceiro deles, o guarda Caio Muratori, e os ocupantes do carro furtado, alvo da perseguição.

O caso aconteceu em Cidade Tiradentes, zona leste da capital paulista, e é investigado pela Delegacia da Criança e do Adolescente do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), a mesma que apura a morte de um menino de 10 anos durante perseguição policial da PM na zona sul, no início do mês No caso mais recente, a polícia investiga se houve excesso por parte dos GCMs.

Na versão dos guardas-civis, o menino e os dois comparsas estavam praticando roubos na região com um Chevette prata. Dois homens em uma moto, que não deram nomes, avisaram os GCMs, que logo iniciaram uma perseguição.

Em São Paulo, porém, desde 2008, há regra interna que proíbe guardas de atuarem em “flagrante presumido”, quando não há certeza de que estão perseguindo alguém cometendo crime. Eles só devem agir quando há certeza, como ao flagrar um assaltante no momento do crime. Para a Prefeitura, que também abriu sindicância, houve “erro” na abordagem. Em nota, a administração informou ainda que os guardas foram afastados das funções.

Em seu depoimento, o guarda Caio Muratori disse que revidou os disparos que vinham do Chevette. Quatro tiros acertaram o vidro traseiro e um dos pneus do carro onde estavam os meninos. O automóvel parou em uma rua onde ocorria uma quermesse. Dois jovens saíram correndo. Um morador viu que havia uma criança ferida no veículo e pediu ajuda. O menino foi levado para um pronto-socorro da região, onde morreu.

Perícia

A reportagem apurou que os outros dois guardas que acompanhavam Muratori na viatura afirmaram no DHPP que não perceberam que os ocupantes do carro haviam atirado contra eles. E só viram quando o colega passou a atirar.

Os peritos concluíram inicialmente que o carro tinha sinais de tiro de fora para dentro, mas não apresentava sinais de disparos no seu interior, e os vidros estavam fechados. Nenhuma arma foi encontrada. Os laudos periciais devem sair em até 30 dias.

Muratori foi autuado em flagrante por homicídio culposo (sem intenção). Ele pagou fiança e responderá em liberdade. Os outros dois GCMs foram ouvidos como testemunha.

O Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana vai acompanhar as investigações da polícia. Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, a investigação deveria considerar a possibilidade de homicídio doloso (quando há intenção de matar).

“Nenhum tiro acertou a lataria. Todos os disparos foram dados em direção à cabeça das pessoas que estavam sendo perseguidas, atingindo a criança de 11 anos”, afirmou Alves. Ele disse que vai cobrar uma investigação rigorosa da Corregedoria da GCM. “Na prática, mais uma criança foi assassinada por agentes públicos; no caso, por guardas municipais.”

Na segunda-feira, 27, o proprietário do Chevette furtado pelos meninos na zona leste foi ouvido no DHPP. No decorrer da semana, os investigadores vão chamar outras testemunhas para prestar depoimento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.