Guerra suja obscurece propostas vagas dos candidatos colombianos

  • Por Agencia EFE
  • 23/05/2014 19h34

Ana Gómez.

Bogotá, 23 mai (EFE).- Os escândalos, a guerra suja, a falta de debates televisados com a participação de todos os candidatos à presidência da Colômbia e suas vagas propostas enviaram uma mensagem de desconcerto a uma sociedade consciente que o país atravessa um momento-chave e um possível futuro de paz.

Os cinco candidatos, inclusive o atual presidente Juan Manuel Santos, que tenta a reeleição, iniciaram há mais de dois meses suas excursões pelo país e encheram de propaganda eleitoral tantos os meios de comunicação como os cartazes, mas custa identificar as propostas de cada um além do tema da paz.

As negociações do governo de Santos com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que já alcançaram três acordos preliminares, foram o eixo temático inegável da campanha.

De fato, o candidato da Aliança Verde, o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, chegou a acusar Santos de ter imposto a paz na campanha para tapar as frentes que não atendeu em seu governo, que, segundo sua opinião, são a saúde, a segurança e as infraestruturas.

As desqualificações à gestão de Santos e as críticas à figura da reeleição na Colômbia marcaram também uma primeira fase da campanha, na qual o tédio se destacava em um leque de candidatos sem carisma.

Para resolver esses vazios, os publicitários do candidato do movimento do ex-presidente Álvaro Uribe, Óscar Iván Zuluaga, lhe identificaram com o “Z” de Zorro, Santos mudou seu chefe de campanha quando o cenário começou a piorar, e a candidata da esquerda, Clara López, literalmente soltou o cabelo para dar novos ares a sua proposta.

Meios de comunicação, universidades e grêmios convocaram debates de candidatos dos quais participaram sempre Zuluaga, López e a conservadora Marta Lucía Ramírez, mas poucas vezes Peñalosa e nunca o presidente-candidato Santos.

Ramírez chegou a levar duas cadeiras de plástico a um dos debates para evidenciar a ausência de Peñalosa e Santos, que reconheceram que não querem brigar com seus adversários.

A campanha só pegou fogo, para tristeza da democracia, quando a três semanas das eleições começaram a aflorar escândalos e uma tenaz guerra suja entre os dois principais candidatos: Santos e Zuluaga, que chegaram a um empate técnico nas enquetes.

Uribe acusou Santos publicamente de usar dinheiro do narcotráfico após a divulgação da notícia que seus mais próximos colaboradores, entre eles o venezuelano Juan José Rendón, tinham recebido US$ 12 milhões das máfias, ao que uniu-se a descoberta de uma operação de espionagem aos negociadores em Cuba, por parte de Zuluaga, a fim de boicotar o processo de paz.

Por trás dessas ilegalidades se esconde, no entanto, uma Colômbia que vive um momento histórico, com bons dados macroeconômicos e uma melhora de sua imagem no exterior, mas atada a graves problemas sociais derivados da desigualdade e do conflito armado que faz o país sangrar há meio século.

Nenhum candidato foi capaz de comunicar efetivamente seu programa de governo, apesar de todos incluírem propostas para melhorar serviços básicos, apresentadas em um esbanjamento multimídia em suas páginas de internet e redes sociais.

Em educação, todos compartilham propostas que pretendem melhorar a capacitação e situação salarial dos professores, a ampliar a cobertura e a qualidade da educação da primeira infância; ao mesmo tempo em que apostam em renovar o privatizado sistema de saúde para favorecer o paciente e não o empresário.

Solucionar os profundos problemas do campo, que derivaram em protestos durante 2013 e 2014, é prioritário para a esquerdista López, que pensa em renegociar os tratados de livre-comércio e renovar o modelo de desenvolvimento com um impulso da indústria.

Já Peñalosa propõe um Ministério do Bem-Estar Rural, Ramírez quer duplicar a produção agrícola e perdoar as dívidas dos camponeses, e Santos construir mais casas e criar mais empregos no campo, enquanto Zuluaga quer reforçar o enfoque regional em um país centralista.

Além disso, Zuluaga e Ramírez pretendem recuperar a “segurança democrática” de seu ex-chefe, o ex-presidente Uribe, Santos propõe criar o Ministério de Segurança Cidadã focado no pós-conflito, enquanto Peñalosa e López são partidários de fortalecer a justiça mais que os esquemas de polícia.

Peñalosa e Ramírez também têm planos de combater a corrupção, sobretudo a segunda, que promete criar um “Bloco de Busca Anticorrupção”.

A grande ausente nestas campanhas, segundo advertem a Defensoria Pública e o atual vice-presidente, Angelino Garzón, é uma política firme de direitos humanos e reconciliação, a base do pós-conflito e a Colômbia do futuro. EFE

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