Guerrilha paraguaia ataca delegacias e faz alerta contra agrotóxicos
Assunção, 19 fev (EFE).- O grupo guerrilheiro Exército do Povo Paraguaio (EPP) efetuou disparos contra duas delegacias no norte do Paraguai e supostamente deixou uma mensagem declarando proibido o “cultivo de soja, milho e outros produtos que requeiram o uso de agrotóxicos”, informou nesta quinta-feira Ministério Público.
Os tiros foram disparados contra duas delegacias no Departamento de Concepción na noite de quarta-feira, com menos de uma hora de intervalo entre os ataques. Uma das delegacias fica no município de Azotey e a outra no de Kurusú de Hierro e estão separadas por cerca de 20 quilômetros de distância.
Os ataques, que não deixaram feridos, aparentemente foram realizados pelo EPP. Uma mensagem encontrada no local adverte criadores de gado e donos de cultivos de soja de que a utilização em massa de agrotóxicos é “extremamente nociva para a saúde humana”.
Neste mesmo dia, a imprensa local havia divulgado que vários fazendeiros aceitaram pagar extorsões do EPP, que as chama de “impostos revolucionários”.
Segundo Joael Cazal, do jornal Última Hora, os disparos foram feitos a partir de matagais, a cerca de 200 metros de distância das delegacias. Outros ataques às mesmas delegacias já haviam ocorrido anteriormente.
Em 21 de abril de 2013, uma semana após as eleições gerais que levaram o presidente Horácio Cartes ao poder, a delegacia de Kurusú de Hierro foi alvo de tiros em plena luz do dia, e um explosivo colocado em uma viatura matou um policial.
“Assim como na outra vez, este ataque também não pretendia causar danos, mas chamar atenção. Entre duas e quatro pessoas atacaram a delegacia”, afirmou Cazal.
“Os inimigos acreditam ter derrotado as nossas ideias, ter derrotado a nossa concepção guerrilheira sobre a luta revolucionária armada, o que eles conseguiram foi um golpe de sorte”, declarou o EPP sobre os companheiros caídos, na suposta mensagem encontrada no local do ataque.
O governo paraguaio responsabiliza o EPP por 39 assassinatos desde sua criação, em 2008. Destes, 19 durante o mandato de Cartes, que assumiu o cargo em 2013.
O grupo armado opera no norte do país, na encruzilhada entre três departamentos: San Pedro, Concepción e Amambay.
Trata-se de uma das áreas mais pobres do Paraguai, muito perto das cidades fronteiriças com o Brasil, que são consideradas como base para o crime organizado.
Além disso, o grupo mantém o policial Edelio Morinigo refém há quase oito meses e exige a libertação de guerrilheiros presos para sua libertação.
O sequestro do oficial aconteceu quando o EPP tinha o filho de um fazendeiro brasileiro, Arlan Fick, em seu poder. Arlan, que ficou nove meses em cativeiro e foi libertado meses após sua família pagar um resgate de US$ 500 mil, tinha apenas 16 anos quando foi sequestrado.
Embora a ação mais famosa do grupo tenha sido o sequestro de María Edith Bordón, esposa de um empresário paraguaio, realizado três anos antes. A Promotoria atribui ao EPP diversos outros casos de sequestro, assim como ataques com explosivos e atentados a fazendas e instalações policiais.
O Paraguai é o quarto maior exportador de soja. Esta indústria fomentou o aumento do uso de agrotóxicos e pesticidas em grande escala. Segundo o instituto Base Investigações Sociais (Base Is), entre 2009 e 2013 a quantidade de agrotóxicos e herbicidas importados para o uso nos cultivos extensivos de soja e milho, entre outros, quintuplicou no país,
A Federação Nacional Camponesa (FNC), a maior organização de camponeses do país, protagonizou várias mobilizações pacíficas para exigir um controle exaustivo das fumigações com pesticidas, especialmente nas plantações de soja. EFE
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