Há um ano, Snowden chegava em Moscou como um refugiado da Justiça americana

  • Por Agencia EFE
  • 23/06/2014 12h52

Virgínia Hebrero.

Moscou, 23 jun (EFE).- Hoje faz um ano que o ex-agente da NSA Edward Snowden chegou em Moscou fugindo da justiça dos Estados Unidos, escala que deveria ser breve em seu caminho para a América Latina mas que se transformou de forma inesperada em um asilo que parece fincar raízes.

Às 17h05 locais de 23 de junho, o voo SU213 da companhia Aeroflot, procedente de Hong Kong, aterrissou no aeroporto Sheremetievo, em Moscou, com Snowden a bordo.

Apenas duas semanas antes, o jovem de 30 anos, que trabalhou como consultor para a Agência Nacional de Segurança (NSA), tinha revelado ser a fonte das revelações divulgadas pelo “The Washington Post” e o “The Guardian” sobre a espionagem em massa praticada pelos Estados Unidos.

O reconhecimento de que era o responsável pelo vazamento de milhares de documentos confidenciais gerou uma caça a Snowden por parte de Washington, que pediu sua extradição de Hong Kong e no dia 22 de junho revogou seu passaporte.

Sem documentos, o jovem chegou em Moscou com a intenção de ir para algum país latino-americano -em primeiro lugar se especulou Cuba-, mas depois ele se viu obrigado a permanecer na zona de trânsito do aeroporto, de onde pediu asilo a 21 países.

Quatro países latino-americanos se ofereceram: Equador, Bolívia, Nicarágua e Venezuela, mas diante da impossibilidade de sair do aeroporto, foi a Rússia que finalmente concedeu, em 1º de agosto, asilo para Snowden, após o técnico em informática permanecer cinco semanas em terra de ninguém.

Um ano depois, Snowden, que vive em local desconhecido, começou os preparativos para pedir uma prorrogação de seu asilo temporário.

“Neste momento, de acordo com as leis da Rússia, estão sendo coletados os documentos que serão entregues ao Serviço Federal de Imigração (FMS) para o prolongamento de sua estadia na Rússia”, declarou Anatoli Kucherena, advogado que assessorou e acompanha Snowden desde o princípio de seu périplo no país.

Kucherena não soube precisar, no entanto, se Snowden solicitará outra vez asilo ou uma permissão de residência para viver na Rússia.

Levado para um domicílio secreto desde que obteve asilo, uma das primeiras atividades conhecidas de Snowden foi uma reunião em Moscou com outros compatriotas que revelaram atividades ilegais, um encontro que foi divulgado pelo portal Wikileaks, que esteve ao lado do jovem ex-espião ao longo de toda sua fuga da Justiça dos EUA.

Snowden também recebeu uma visita de seu pai e vários prêmios internacionais de organizações de direitos humanos por suas revelações, que ao longo deste ano não deixaram de provocar novos escândalos, como as escutas de telefones celulares de vários líderes mundiais, entre eles da presidente Dilma Rousseff.

O ex-funcionário da CIA deu algumas entrevistas neste tempo e, pouco a pouco, foi se adaptando a uma certa normalidade em seu forçado exílio: encontrou trabalho -supõe-se que na rede social VKontakte (o Facebook da Rússia)-, estudou russo e, segundo seu advogado, visita museus e teatros.

Em uma foto, apareceu passeando de barco por Moscou e participou de videoconferências sobre problemas de segurança no setor de comunicações.

Apesar dos temores de Washington sobre o prejuízo que Snowden poderia causar por sua estadia na Rússia, o ex-agente manteve um perfil discreto, que seu advogado justificou por motivos de segurança.

“O nível de perigo continua sendo muito alto”, disse Kucherena, que em várias ocasiões denunciou ameaças contra seu protegido.

O Kremlin também foi extremamente discreto e não explorou a situação de Snowden, como se pensava no início, quando o ex-espião pediu refúgio e causou uma crise diplomática entre Moscou e Washington.EFE

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