Hasteadas as bandeiras, Cuba e EUA entram no difícil caminho da normalização

  • Por Agencia EFE
  • 15/08/2015 20h18

Soledad Álvarez.

Havana, 15 ago (EFE).- Com suas bandeiras já no alto dos mastros nas embaixadas de Washington e Havana, Cuba e Estados Unidos começam a andar agora pelo complexo caminho rumo à normalização plena de suas relações, um processo cujo roteiro será definido em uma reunião da comissão bilateral.

Havana viveu hoje a ressaca de um dia histórico luzindo renovados símbolos no emblemático Malecón: as barras e estrelas americanas tremulando em um edifício que também desde ontem tem em sua fachada a placa em bronze de “Embassy of the United States of América” ao lado do escudo americano.

Símbolos que neste sábado se transformaram em um atrativo a mais para dezenas de turistas, inclusive dos Estados Unidos, que não quiseram perder a oportunidade de tirar fotos perante a bandeira e a embaixada norte-americanas.

“Resolvemos vir hoje, quando não tem mais tanta gente e tirarmos fotos com a bandeira. Ontem, foi um dia histórico e nós estivemos aqui. Foi algo extraordinário. E agora vê-la assim flutuando é como um símbolo de paz, que é possível viver em harmonia”, disse à Agência Efe Ann, uma jovem mochileira norte-americana, que viaja com seu amigo Richard.

Eles compraram as passagens para Cuba no dia em que souberam a data da reabertura oficial da missão diplomata americana na ilha.

Com o mesmo intuito grupos de brasileiros, franceses, espanhóis e holandeses, como Albert, estavam no local. Ele aproveitou para fazer selfies com a bandeira ao fundo.

“Meus amigos no Instagram vão morrer de inveja”, brincou ele, antes de dizer que se sentia sortudo por sua temporada em Cuba ter coincidido com a cerimônia de reabertura, liderada pelo secretário de Estado americano, John Kerry.

O ato de ontem é a notícia de destaque de hoje nos meios de comunicação cubanos, todos oficiais, com manchetes como “Inicia um longo e complexo caminho” no “Granma”, jornal oficial do governante Partido Comunista de Cuba (PCC), o único; e “É possível construir relações civilizadas entre Cuba e Estados Unidos” no “Juventud Rebelde”.

Os dois jornais reproduzem em suas páginas os discursos integrais de Kerry e do chanceler cubano, Bruno Rodríguez.

Nas ruas, a população voltou à normalidade com o desejo de que a nova era proporcione, sobretudo, melhorias para a população.

“O que o povo espera que esta reconciliação seja um passo ao avanço. Esperemos que tenha resultados, que as relações se estreitem e que nos ajudem com a economia”, disse à Efe Madelín, professora de Educação Física.

Outros são um pouco mais céticos. Ledis, uma aposentada de Havana, acredita que é preciso esperar o desenvolvimento do processo para ver os resultados.

Culminado o restabelecimento diplomático depois de mais de meio século de inimizade, chega agora o momento da normalização das relações com grandes empecilhos no caminho, como o embargo econômico e comercial a Cuba, a reivindicação da ilha para que sejam devolvidos os territórios da Base Naval de Guantánamo e as profundas diferenças em torno dos direitos humanos.

Esse assunto esteve ontem muito presente durante a visita de John Kerry, que pediu avanços em Cuba nesse sentido e que se reuniu com dissidentes em um encontro fechado na residência do encarregado americano em Havana, Jeffrey DeLaurentis.

Por outro lado, Bruno Rodríguez disse que Cuba está “orgulhosa de seu recorde no sentido de garantir o pleno exercício dos direitos humanos”. Ele reiterou a disposição do governo de conversar com os Estados Unidos sobre qualquer tema “aceitando que em alguns deles será difícil concordar”.

Acima de tudo, Washington e Havana têm a vontade de continuar avançando em suas relações como demonstra o anúncio da criação de uma comissão bilateral para determinar os assuntos que devem ser abordados imediatamente. A primeira reunião do grupo está marcada para acontecer nos dias 10 e 11 de setembro, na capital cubana. EFE

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