Herança cultural de Katmandu, um patrimônio ferido pelo terremoto

  • Por Agencia EFE
  • 30/04/2015 09h32

Noemí Jabois.

Katmandu, 30 abr (EFE).- O terremoto que castigou o Nepal no sábado roubou do vale de Katmandu não apenas milhares de vidas, mas também parte de sua herança cultural, ao destruir quase todos os lugares do país declarados patrimônio da humanidade pela Unesco, alguns deles concentrados na cidade que lhe dá nome.

Os templos e monumentos históricos derrubados ou em ruínas na emblemática praça Bashantapur Durbar da capital refletem as consequências do terremoto no abundante patrimônio histórico nepalês.

“Esta praça era um lugar incrível, um patrimônio da Unesco, mas com a devastação acaba de se transformar em um deserto. Provavelmente já não vai atrair as pessoas”, lamentou à Agência Efe Rajan Maharjan, presidente da Federação Mundial de Jovens Hindus.

Alguns dos templos ficaram reduzidos a escombros e concentram os atentos olhares de dezenas de curiosos que contemplam atônitos como seus destroços jazem espalhados pelo chão.

Todos querem retratar com seus telefones a marca deixada pela tragédia em seu patrimônio cultural.

Maharjan, que se encarregava da manutenção dos monumentos, contou, com o rosto aflito, que uma das construções derrubadas em Durbar é uma pequena réplica do templo de Pashupatinath, o lugar hindu mais sagrado do país situado nos arredores de Katmandu e que nos últimos dias abriga cremações maciças das vítimas da catástrofe.

“Só a realeza podia entrar neste templo”, lembrou com nostalgia.

Maharjan destacou que poucos dos edifícios da praça, alguns com 500 anos de história, sobreviveram “por enquanto” ao terremoto, mas que “não se sabe o que ocorrerá mais adiante”, pois se cogita demoli-los por razões de segurança.

Gajendra Shrestha, da organização Cidadão Consciente, botou a culpa do ocorrido na pouca atenção dada pelo governo nepalês aos monumentos, que não estavam, em sua opinião, nas melhores condições para fazer frente a um terremoto.

Apesar de as construções antigas terem sido as mais afetadas, o terremoto também derrubou alguns edifícios modernos em Katmandu. A área de Durbar se transformou depois do sismo em um cemitério de pessoas e também de tijolos.

Vários corpos foram achados no Templo de Krishna, aos quais se somam os encontrados na área de Maju Dengan e em um edifício de cinco andares que caiu na região, segundo os cálculos do presidente da Federação de Hindus.

Maharjan relatou que no momento do terremoto várias pessoas estavam doando sangue nas imediações da praça e acrescentou, com semblante consternado, que provavelmente “várias delas morreram”.

Situada no coração da capital nepalesa, Durbar não é a única que sofreu pelo terremoto. Segundo a Unesco, também sofreram grandes danos a praça Durbar de Patan, os palácios de Hanuman Dhoka na capital, e o recinto monumental de Bhaktapur, que “ficaram praticamente destruídos”.

Também veio abaixo a célebre torre Dharahara, erguida em 1832, e em cujas ruínas foram encontrados 120 mortos.

Além disso, o terremoto afetou gravemente outra área destacada como herança “natural” pela Unesco, o Parque Nacional de Sagarmantha, que inclui o monte Everest.

Aos milhares de mortos e feridos e os danos no patrimônio cultural, se unem as perdas econômicas pelo mau estado de uma herança cultural que atraía um grande número de turistas.

Maharjan calcula que só o complexo de Bashantapur, visitado diariamente por milhares de turistas, proporcionava receitas mínimas de US$ 495 mil anuais, que se somarão às perdas econômicas ocasionadas.

“Há templo, há deus. Mas não posso vê-lo”, exclamou um transeunte enquanto apontava para as ruínas de uma construção na qual já não poderá voltar a rezar. EFE

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