Homem que atendeu gestante sem registro médico é acusado de homicídio
Um homem que se apresentava como médico foi preso em flagrante na madrugada deste domingo (20) após a morte de uma paciente que havia dado à luz a gêmeos na Grande São Paulo. Mesmo sem ter registro profissional, ele atendeu Vanessa Batista, de 29 anos, na ambulância que a transferiu da Maternidade Santa Helena, em São Bernardo do Campo, para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em Santo André.
Graziane Soares Pereira, de 33 anos, é acusado de homicídio simples, exercício ilegal da Medicina e falsa identidade. Segundo informações da Polícia Civil, uma médica responsável pela emergência da unidade suspeitou da conduta de Pereira durante o atendimento à paciente e acionou a polícia.
Vanessa havia sido internada na maternidade na última terça-feira (15) com quadro de hipertensão gestacional. O parto ocorreu dois dias depois. De acordo com o Hospital, um menino e uma menina nasceram “em perfeitas condições de saúde”.
A paciente apresentou complicações por causa de uma hemorragia após o nascimento dos filhos e precisou ser submetida à histerectomia, cirurgia para retirar o útero. No sábado, 19, a equipe médica decidiu transferi-la para Santo André, uma vez que a unidade é equipada com UTI adulta, a cerca de sete quilômetros de distância.
Aos policiais, a médica afirmou que Vanessa havia sido transferida em quadro instável, mas chegou em estado grave, por volta das 21h20. A paciente morreu cerca de uma hora depois, após sofrer parada cardiorrespiratória.
A médica questionou a identificação técnica de Pereira, responsável pela paciente na ambulância. Ele não teria confirmado sua credencial. Na delegacia, o homem afirmou aos policiais que havia estudado Medicina na Bolívia, mas havia sido reprovado no exame de validação do diploma no Brasil.
Na bolsa do suposto médico, os agentes encontraram um jaleco, um estetoscópio, documentos pessoais e dois carimbos com nomes de médicos diferentes. Pereira foi levado para a Cadeia Pública de Santo André e deve passar por audiência de custódia. O caso foi registrado no 1º Distrito Policial de Santo André.
Em nota, o Santa Helena afirma que a transferência entre as unidades foi “realizada por um dos prestadores credenciados à operadora de saúde”. Procurada por telefone, a empresa Sérgio Remoções não atendeu a reportagem.
“O Santa Helena Saúde ressalta que está dando todo o suporte necessário aos familiares da paciente e que suspendeu os serviços da empresa Sérgio Remoções até que sejam concluídas as investigações, que estão sendo conduzidas pelas autoridades policiais”, diz a nota.
Sindicância
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) afirma que vai instaurar sindicância para apurar “todos os fatos denunciados sobre este atendimento”. O órgão também diz que, por competência legal, só pode agir em casos de médicos devidamente inscritos e habilitados, mas que encaminha denúncias de falsos médicos ao Ministério Público Estadual (MPE).
Segundo o Cremesp, os diretores médicos podem responder a processo ético, caso tenham sido negligentes no momento da contratação do funcionário. “Em 2006, por meio da Resolução 139, o Cremesp definiu que a contratação de médicos deve ser precedida de cuidadosa verificação da identificação e habilitação legal do profissional”, diz, em nota.
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