Homem que se escondeu de terroristas em Paris processa TVs que o delataram
Paris, 18 ago (EFE).- O homem que ficou escondido no escritório em que se entrincheiraram em janeiro os autores do massacre na revista “Charlie Hebdo” antes de serem abatidos processou três meios de comunicação que divulgaram informações sobre sua presença alidesconhecida pelos jihadistas.
Fontes judiciais confirmaram hoje que a promotoria de Paris – única com competência em assuntos de terrorismo – abriu na quinta-feira uma investigação, embasada na denúncia de Lilian Lepère, que considerou que as revelações das emissoras de televisão “France 2” e “TF1” e da emissora de rádio “RMC” colocaram sua vida em perigo.
Lepère, de 26 anos, trabalhava na gráfica de Dammartin, em Goële, onde os irmãos Cherif e Said Kouachi se refugiaram enquanto tentavam fugir da polícia após o atentado cometido dois dias antes contra a revista “Charlie Hebdo”, onde mataram 12 pessoas.
Seu chefe saiu ao encontro dos irmãos Kouachi e disse ao seu empregado que se escondesse, e ele foi para um pequeno armário sem que os terroristas soubessem que havia outra pessoa ali.
No entanto, o deputado Yves Albarello revelou à RMC, quando a empresa já estava cercacda pelas forças de segurança, que um trabalhador estava escondido.
A informação foi confirmada minutos depois pela irmã de Lepère, Sindy, a quem uma jornalista da “France 2” perguntou ao vivo: “Tentou entrar em contato com ele várias vezes e ele não responde?”.
Sindy Lepère respondeu que tinham parado de ligar para seu celular porque isso poderia perturbá-lo se estivesse escondido ou em uma situação difícil.
A “TF1” também repercutiu a presença de um empregado no interior da empresa.
Segundo os argumentos do advogado de Lepère, Antoine Casubolo Ferro, os irmãos Kouachi, que tinham um transistor, estavam armados e decididos a não se entregarem, e poderiam ter sabido que seu cliente estava ali, o que o fez correr um risco injustificado.
Para o advogado, os três meios denunciados não respeitaram a obrigação de prudência ou de segurança, figura que existe no Convênio Europeu de Direitos Humanos e na legislação francesa.
Em fevereiro, o Conselho Superior do Audiovisual reprovou a maneira como conduziram a situação.
A justiça abriu em abril outro processo semelhante contra o canal “BFM TV”, que revelou, quando o jihadista Amedy Coulibaly fez reféns em um supermercado judaico de Paris, que vários clientes estavam escondidos em uma câmara frigorífica.
Algumas dessas pessoas processaram a emissora, por considerar que tinham posto suas vidas em perigo. EFE
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