Horas antes do fim da trégua, palestinos em Gaza não creem em uma solução

  • Por Agencia EFE
  • 18/08/2014 16h42

María Sevillano.

Gaza, 18 ago (EFE).- O pessimismo e a desconfiança predominam nesta segunda-feira entre a população da Faixa de Gaza, horas antes de expirar o cessar-fogo que foi estipulado há cinco dias, cuja possível extensão é negociada por Israel e Hamas no Cairo, a capital do Egito.

Durante a tarde de hoje, o mercado de Al Firas, na Cidade de Gaza, aparentava um movimento parecido com o de seis semanas atrás, antes do início daquilo que os palestinos na Faixa chamam de “a terceira guerra”.

“Quando terminou o primeiro cessar-fogo, as pessoas foram às ruas para tentar substituir algumas das coisas que tinham perdido. Mas agora ninguém se anima a comprar”, explicou o vendedor Ismail Omar, de 24 anos, na entrada de sua loja, que estava vazia.

Sua casa é uma das poucas construções que não foram atingidas no devastado bairro de Shuahiye, mas, há mais de duas semanas, acabou se mudando para Zeitun porque – disse – não quer “viver em uma área fantasma” na qual não há água nem eletricidade.

“Amanhã, aconteça o que acontecer, vou abrir minha loja, mesmo que parcialmente. Sou formado na universidade, mas isso é tudo o que eu posso aspirar”, relatou com poucas esperanças, antes de afirmar que não acredita que algo melhor vai acontecer após as conversas no Cairo.

“Israel é como um homem que passa pelas ruas batendo em crianças pequenas e ninguém pode pará-lo. Não se pode dizer que o Hamas começou isto com o lançamento de foguetes. O que fez foi continuar o que eles iniciaram. E não podemos acreditar que Israel vai aceitar alguma de nossas propostas”, garantiu.

Atrás de um carrinho carregado com mangas e peras, outro Ismail não tem mais ilusões do que seu xará diante do resultado das negociações retomadas ontem sob mediação egípcia.

“Esta é a situação normal em Gaza, não podemos fazer nada”, afirmou resignado.

“Não espero grande coisa disto (as negociações). Acabar com as mortes, abrir as fronteiras. Queremos trabalhos, uma vida. Uma vida normal, isso é o que queremos”, concluiu, enquanto voltava a servir os clientes que se aproximavam.

Entre os céticos, há quem se decida por uma opção, a da luta.

Mahmoud Abu Aoba ainda estuda na universidade, mas sua profissão é a de peixeiro, afetado diretamente pelo debate sobre a construção de um porto marítimo com trânsito internacional, um dos pedidos prioritários do Hamas.

A já restrita área de pesca foi quase totalmente limitada durante o conflito, quando os pescadores só puderam trabalhar durante os períodos de trégua e, ainda assim, alguns deles sofreram diversos ataques de navios de guerra israelenses.

“Isto (o porto) nos daria mais liberdade, sem dúvida, mas não podemos esperar nada de Israel, porque já fizeram promessas no passado que não cumpriram. Portanto, já que não temos nada a perder, o melhor é continuar com a resistência”, opinou, enquanto mostrava os poucos peixes que conseguiu hoje no mar.

O jovem estudante, também deslocado durante o conflito, acrescentou: “Meu amigo morreu, e quem se importa? É só um número. Apoio os milicianos, que completem sua batalha. Defenderei suas armas até a morte. Talvez renovem o cessar-fogo, mas não acho que por muito tempo”.

Esta tarde, e no meio de um ambiente que durante o dia todo oscilou do pessimismo ao otimismo, o Hamas voltou a insistir que seguirá com a luta a menos que suas reivindicações – o alívio progressivo do bloqueio israelense – sejam cumpridas.

Estas incluem a exigência de que a abertura das fronteiras, do porto e do aeroporto sejam, ao mesmo tempo, comprometidas com o fim permanente das hostilidades, e não depois, como pretendia a última proposta apresentada pela mediação egípcia.

Israel, por sua vez, continua reiterando sua reivindicação de que as milícias palestinas se desarmem, algo que até alguns especialistas israelenses consideram como inviável neste momento.

Assim, fontes diplomáticas palestinas próximas dos negociadores na capital egípcia sugeriram para a Agência Efe que, caso não se chegue a um acordo antes da meia-noite, as duas partes poderiam aceitar uma prorrogação tácita para dar mais tempo ao diálogo.

Com exceção dos elementos mais radicais dos dois lados, que não querem o fim dos combates, israelenses e palestinos vêm sendo igualmente pressionados pela comunidade internacional, que deseja o fim de um conflito que já causou a morte de mais de 2 mil palestinos, 75% deles civis.

Do lado de Israel, 64 soldados perderam a vida em combates com milicianos palestinos, além de um civil israelense, um beduíno e um trabalhador asiático, atingidos por algum dos mais de 3 mil foguetes lançados pelas milícias. EFE

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